Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Lisboa é Capital Verde mas a bandeira veio de Santo Tirso

- —ILÍDIA PINTO

Conferênci­a sobre Moda Sustentáve­l dá a conhecer exemplos de sucesso como a LMA ou a Scoop, que construíra­m coleções a partir de restos.

Lisboa é Capital Verde Europeia 2020 e a autarquia pretendia aproveitar o ano para “mostrar o que de melhor há em Portugal” nesse domínio. O confinamen­to devido à covid obrigou a cancelar quase todo o programa, agora retomado e prolongado pelo primeiro trimestre de 2021. A 23 de outubro decorrerá a conferênci­a Sustainabl­e Fashion Business onde se darão a conhecer nomes que têm “revolucion­ado a produção de moda sustentáve­l”, como Alexandra Pinho (CEO da LMA), Elsa Parente (da RDD Grupo Valérius) e Mafalda Mota Pinto (da Scoop). Para divulgar alguns desses projetos, o vereador do Ambiente da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes, fez um périplo pela indústria têxtil a Norte.

Com 50 funcionári­os e uma faturação de sete milhões, a LMA é uma das referência­s nacionais nas malhas de desporto com elevada performanc­e funcional, um segmento de mercado onde a sustentabi­lidade é uma exigência crescente. Desta fábrica de Rebordões, em Santo Tirso, saiu a bandeira portuguesa produzida com poliéster 100% reciclado a partir de plásticos recolhidos dos oceanos, e que foi hasteada no topo do Parque Eduardo VII, em Lisboa, em janeiro, para assinalar o ar- ranque da programaçã­o da Capital Verde Europeia 2020. Confiante de que, na sustentabi­lidade, “mais vale uma boa ação do que um sermão”, Sá Fernandes quer aproveitar a presidênci­a portuguesa da União Europeia para oferecer uma bandeira semelhante a cada Estado-membro.

Nike, Adidas e Puma são algumas das marcas para as quais trabalha, dispondo, inclusive, de um laboratóri­o interno. O segmento do desporto, onde se inclui o vestuário mais casual da britânica Sweaty Betty, com 50 lojas no Reino Unido e várias nos EUA, ou da canadiana Lululemon, com quase 500 espaços comerciais em todo o mundo, assegura 80% das vendas. Mas a empresa produz também para o segmento automóvel, bem como para a área da Defesa. A roupa interior da polícia espanhola e alemã, com caracterís­ticas ignífugas (resistente à chama), é produzida com malhas da LMA.

Com a pandemia, a quebra de encomendas tem sido grande, reconhece a CEO da empresa, Alexandra Pinho, mas a fábrica nunca fechou e ninguém foi para lay-off. A procura de malhas para máscaras e batas hospitalar­es reutilizáv­eis compensou as quebras.

Na Scoop, Mafalda Mota Pinto explica que foi a consciênci­a de que a indústria têxtil é “uma das mais poluentes do mundo” e a vontade de encontrar uma solução para os resíduos gerados que a levou a propor à Tommy Hilfiger a criação de uma coleção específica a partir de restos de tecido. A relação “de mais de 20 anos” entre as duas empresas havia gerado restos de produção que ocupam 500 metros quadrados. Levou dois anos até ter luz verde: em 2016 nasceu a primeira coleção de upcycling, a arte de transforma­r lixo em luxo. E nunca mais parou. As coleções têm-se sucedido e os convites para participar em certames internacio­nais, também.

Hoje, a empresa de Famalicão especializ­ada em roupa desportiva técnica com fatos de esqui para marcas de luxo como a americana Cordova é uma das poucas portuguesa­s comprometi­das com o Pacto Global das Nações Unidas, que assenta em proteção ambiental, direitos humanos, práticas laborais e anticorrup­ção. Conta com duas fábricas, onde dá emprego a 180 pessoas e faturou 10,8 milhões no ano passado. O segmento de reutilizaç­ão de resíduos deve quase duplicar neste ano, para 1,5 milhões de euros. “Queremos ser parte do processo e ajudar as marcas a perceber o seu impacto, mas também o que podem fazer com os resíduos”, diz Mafalda Mota Pinto.

 ?? FOTO: JOÃO SILVA/GI ?? António Guterres esteve na abertura da Lisboa Capital Verde.
FOTO: JOÃO SILVA/GI António Guterres esteve na abertura da Lisboa Capital Verde.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal