Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Isabel Camarinha “Tememos uma vaga de despedimen­tos depois do lay-off”

- Texto: Paulo Ribeiro Pinto e Hugo Neutel (TSF)

Secretária-geral da CGTP não aceita uma subida do salário mínimo abaixo de 35€ em 2021 – um “passo significat­ivo” seriam mais 90€. E acusa a ACT de falhar na fiscalizaç­ão do

Na próxima semana vamos conhecer o Orçamento para 2021. Se tivesse de escolher uma medida fundamenta­l, qual seria?

É difícil escolher, mas para a CGTP a questão do aumento geral dos salários e do salário mínimo nacional é a que mais se coloca de momento, sendo que se articula com um conjunto de outras prioridade­s que também nos são fundamenta­is.

O que a CGTP ainda não disse é qual é o salário mínimo que gostava de ver no próximo ano.

As conclusões do Conselho Nacional da CGTP relativame­nte às prioridade­s reivindica­tivas para 2021 são que, para haver melhoria das condições de vida dos trabalhado­res, o aumento de referência que propomos, de 90 euros, seria um passo significat­ivo. Relativame­nte ao salário mínimo nacional temos a reivindica­ção de atingirmos os 850 euros no mais curto prazo, porque acreditamo­s que é possível negociar e caminhar nesse sentido, mas para isso os aumentos do salário mínimo têm de ter um volume significat­ivo.

Mas nunca será mais do que os 30 euros, pelo que se percebeu até agora.

As indicações que têm vindo do governo têm sido nessa base, mas para nós é insuficien­te porque, de facto, o que temos no país é um modelo de baixos salários, fraco aparelho produtivo, de desinvesti­mento nos serviços públicos, intensa precarieda­de que, na última legislatur­a, teve alguns avanços e recuperaçã­o e até aumento de rendimento­s e direitos, mas que não resolveu o problema.

Para a CGTP um aumento razoável teria de ser sempre acima dos 35 euros, certo?

Sem dúvida alguma.

Mas não admite que, com tantas empresas em enorme dificuldad­e, o aumento do salário mínimo nesta altura possa até ser contraprod­ucente para os trabalhado­res?

Isso é um argumento falacioso porque as empresas não são todas iguais. Os custos com o trabalho representa­m um pequena parte do custo geral das empresas. Isto são dados do Banco de Portugal, entre 16% e 18%. O aumento do salário mínimo, mesmo que fosse significat­ivo, teria um efeito reduzido no custo geral das empresas.

O governo anunciou uma suspensão de 18 meses da caducidade da contrataçã­o coletiva. É suficiente para si?

Essa é mais uma das nossas prioridade­s para 2021. Na revogação das normas gravosas da legislação laboral, a caducidade das convenções coletivas é uma delas. Desde que o Código do Trabalho foi aprovado, teve efeito de bloqueio na contrataçã­o coletiva e esta é fundamenta­l para o progresso. A caducidade é uma das formas que o patronato tem de impedir a negociação e fazer chantagem com associaçõe­s sindicais. Consideram­os é que esta norma tem de ser revogada.

O governo garante que a ajuda europeia que aí vem, em valores nunca vistos, não vai converter-se em austeridad­e. Acredita?

A única coisa que temos, por enquanto, é aquele Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a que estabelece parâmetros muito gerais e não nos permite uma análise clara. Temos de garantir o aumento dos salários porque é isso que vai assegurar produtivid­ade e competitiv­idade. Estávamos a falar de legislação laboral e caducidade, mas podíamos falar da desregulaç­ão dos horários de trabalho praticados no nosso país. A CGTP tem a reivindica­ção pelas 35 horas, mesmo que atingidas de forma gradual.

A partir deste mês, muitas empresas que recorreram ao lay-off simplifica­do deixam de estar impedidas de despedir. Teme uma vaga de despedimen­tos?

Desde o início que dissemos que era preciso impedir todos os des

“O governo agora tem de tomar medidas para que não haja essa onda de despedimen­tos [com o fim da proibição].”

pedimentos e não era suficiente o que o governo tinha colocado nas medidas específica­s desta fase. Isto já aconteceu neste período, mesmo com a proibição, porque esta referia-se a despedimen­tos coletivos ou por extinção de posto de trabalho. Tivemos milhares de trabalhado­res com vínculo precário que foram despedidos, mesmo que do ponto de vista oficial não se considere despedimen­to – mas são despedimen­tos. Agora temos este período de nojo e depois as empresas estão livres. O governo tem de tomar medidas para que não haja essa onda de despedimen­tos.

Teme-a?

Naturalmen­te que tememos que as empresas aproveitem, como estão a aproveitar, para retirar direitos aos trabalhado­res. Esta questão dos horários, agora com a ajuda do governo nesta questão do desfasamen­to em situação de contingênc­ia... a verdade é que se está a tentar passar uma borracha por cima dos direitos laborais.

A CGTP denunciou casos de abuso das empresas com lay-off sim

Não. Até houve reforço da ACT, por pressão nossa, mas não só é insuficien­te como tem de haver orientação e exigência por parte da ACT quando faz as intervençõ­es. O número de situações é imenso, não se chega a todo o lado, mas além disso há permissivi­dade, nomeadamen­te nesta questão da precarieda­de. Um trabalhado­r que tem um posto de trabalho permanente não pode ter um vínculo precário.

Este novo mundo do teletrabal­ho parece ter vindo para ficar. A CGTP tem recebido queixas neste âmbito?

Muitas queixas e a constataçã­o do aproveitam­ento que é feito pelas entidades patronais do teletrabal­ho. O teletrabal­ho em si pode justificar-se em situações muito concretas e até admitimos que é natural, mais ainda com este aumento de infeções, que os trabalhado­res tenham receio.

Há uma questão prática: as pessoas em teletrabal­ho gastam luz e consumos para estarem em contacto com a empresa.

O trabalhado­r não tem de pagar os custos que deveriam ser da empresa. Para as empresas, a generaliza­ção do teletrabal­ho seria uma poupança enorme de custos e esses custos não podem passar para o trabalhado­r, senão estamos a reduzir o seu salário.

Também é verdade que o trabalhado­r deixa de ter custos com transporte­s.

Que nas grandes áreas metropolit­anas se reduziram muito desde a

De 2016 a 2020, sindicaliz­aram-se mais de 114 mil trabalhado­res nos sindicatos da CGTP. O resultado líquido não é tão alto porque houve reformas, despedimen­tos, desemprego, encerramen­tos de empresas, etc. que também levaram à saída de muitos trabalhado­res. O resultado líquido foi positivo em cerca de cinco mil quinhentos e qualquer coisa e continuamo­s a sindicaliz­ar.

Terminamos com uma pergunta à secretária-geral da CGTP – entidade patronal. Qual vai ser o aumento salarial dos seus trabalhado­res em 2021?

Ainda não temos isso definido mas garantidam­ente que haverá conversaçõ­es com os trabalhado­res e haverá aumento com certeza.

Acima dos 35 euros que pede que suba o salário mínimo?

Depende, porque a CGTP depende das quotas dos associados e as quotas dependem dos seus salários. Terá que ver com a negociação e o que queremos é que sejam os 90 euros para todos os trabalhado­res, incluindo os da CGTP.

Este ano temos uma redução média de 34% de consumo de cerveja na restauraçã­o e no caso dos microcerve­jeiros a quebra é superior a 60%. Seria eficaz a aplicação de taxa zero do IEC da cerveja em 2021 para os microcerve­jeiros, a exemplo do que têm os produtores de vinho, e uma redução de 20% para os cervejeiro­s que produzam mais de 1 milhão de litros por ano, para assegurar os níveis de emprego no setor.

As medidas fiscais de apoio às empresas devem ter duas vertentes: curto e médio/longo prazo. Na vertente conjuntura­l, os apoios devem privilegia­r o apoio à tesouraria, como extensão de pagamentos. Em complement­o, apoio ao investimen­to em projetos concretos ligados ao Plano de Recuperaçã­o Económica. No médio/longo prazo, deve haver um sinal claro de estabilida­de, em particular quanto ao não agravament­o dos impostos – porque não cinco anos de tréguas fiscais?

de tarefas duras e pesadas, que já não têm trabalhado­res disponívei­s e (ii) investigaç­ão nas práticas agrícolas, que permitam menor uso de recursos naturais e pesticidas e alta qualidade do produto com custos controlado­s e elevada produtivid­ade por hectare. Esta revolução obriga a investimen­to em I&D que precisa de apoios públicos, pois os montantes são elevados e o prazo de recuperaçã­o muito longo.

hotelaria neste ano não irá além de 30%). Por isso, a AHP propõe que empresas com queda de faturação igual ou superior a 50% tenham o custo com a massa salarial que suportam compartici­pado pelo Estado em percentage­m igual à da proporção da queda de faturação, incluindo redução da TSU na mesma proporção. Assim manter-se-ia o vínculo laboral até à retoma de forma a preservar o emprego e as empresas estarem aptas para o arranque.

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