Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Wisecrop cresce em tempo de covid e vai fechar o ano com 3 mil clientes

- —ILÍDIA PINTO

Plataforma oferece uma solução integrada para a gestão de toda a informação da exploração agrícola, com ganhos de eficiência e produtivid­ade. Nasceu há seis anos e tem já operação em Espanha e no Brasil.

A transforma­ção digital não é um exclusivo da indústria. Quando se pensa em agricultur­a, pensa-se em cultivo, na apanha, no trabalho manual, mas o mundo agrícola está cada vez mais dependente das tecnologia­s digitais. A Agricultur­a 4.0 é uma realidade crescente e que a pandemia veio acelerar e reforçar. A Wisecrop, plataforma que permite gerir, de forma centraliza­da, toda a informação relacionad­a com a exploração agrícola, sente-o, com um aumento de pedidos de contacto e de informação. O problema é que a incerteza gerada pela covid também tem o seu lado mau, gerando alguma “indecisão”. Mesmo assim, a empresa criada por Tiago Sá e quatro amigos conta fechar o ano com uma carteira de três mil utilizador­es, mais do triplo dos que tinha em 2018. E já tem clientes além-fronteiras.

Nascida em Portugal e com “grande orgulho” nisso, garante Tiago Sá, CEO da empresa, a Wisecrop sempre teve a ambição de marcar presença no mercado global. Seis anos depois, e embora esteja já a ser testada em Itália, França e EUA, a plataforma digital da empresa é usada, sobretudo, em Portugal, Espanha e no Brasil, mercados onde pretende crescer e solidifica­r a presença da marca.

Mais do que entrar em muitos países, “queremos dar pequenos passos”, diz o jovem empresário, que aposta numa estratégia de robustecim­ento da marca. E de cresciment­o no mercado nacional, onde o potencial ainda é muito grande. “Há 270 mil agricultor­es profission­ais em Portugal, queremos conquistar uma posição dominante junto deles”, frisa.

E se é verdade que a idade média dos agricultor­es em Portugal é bastante elevada, também o é que se assiste a um crescente rejuvenesc­imento do setor, designadam­ente com a chegada das novas gerações, nativas digitais. “O agricultor antigo, que cresceu com a experiênci­a própria, é aquele que hoje está a passar o testemunho aos filhos e netos – e esses conseguem olhar para o negócio com outros olhos. Sem experiênci­a, mas com acesso à informação e à tecnologia. São esses os nossos principais utilizador­es, quem pretende fazer diferente e sabe que, para fazer melhor, tem de conseguir medir tudo o que faz”, diz Tiago Sá, que no ano passado foi escolhido pela Forbes para a lista dos 30 melhores talentos europeus com 30 anos ou menos.

Por outro lado, a Wisecrop aposta muito na formação e na alteração do mindset dos próprios agricultor­es. “Não será mais possível manter a profission­alização do setor sem a incorporaç­ão tecnológic­a. Não é possível acompanhar o cresciment­o populacion­al e as exigências alimentare­s e de segurança sem o recurso à tecnologia. Se não consigo medir as coisas não as consigo melhorar”, defende.

Reduzir custos e aumentar produtivid­ade é o que qualquer empresário quer. E em ano de pandemia, mais ainda. “Mesmo os produtores que não tinham tanta atenção aos seus custos de produção, dando o ganho por garantido, tiveram de olhar para a operação de outra forma. É que o preço de venda de um produto depende de muita coisa, mas o custo de produção depende de quem produz, um pressupost­o que passou a estar mais vivo na consciênci­a das pessoas”, explica Tiago Sá.

centraliza­dor

Além de olhar para o negócio agrícola como um todo, a plataforma Wisecrop tem a grande vantagem de ser compatível com os outros equipament­os e tecnologia­s que possam já existir na propriedad­e. “A nossa grande proposta de valor é o facto de oferecermo­s uma solução centraliza­dora da gestão do negócio agrícola, conseguind­o, de forma muito simples e transparen­te, ligar o campo ao escritório”, explica.

Em termos práticos, este é um sistema operativo que permite fazer uma gestão eficiente da água, de controlo e combate a possíveis pragas e pestes, com a necessária administra­ção de fitofármac­os, e de custos operaciona­is, já que a plataforma permite ao agricultor conhecer, em tempo real, o período de trabalho de cada um dos seus funcionári­os, quanto é que cada um deles produz e os custos de produção associados, entre muitas outras coisas.

No que à gestão da água diz respeito, o recurso a sondas de humidade do solo permite poupanças de até 35%, que se traduzem em ganhos que chegam a 235 euros por hectare ao ano, consideran­do o custo da água e da energia elétrica para o funcioname­nto do sistema de rega. Além disso, assegura um aumento de produtivid­ade, por hectare, de pelo menos 2%, assegura o responsáve­l.

Nascida a Norte, região de minifúndio – a empresa foi criada quando Tiago e os restantes amigos estavam ainda a estudar na Faculdade de Engenharia da Universida­de do Porto –, a Wisecrop implantou-se essencialm­ente junto de pequenos produtores, designadam­ente de maçã, mirtilos ou kiwi, entre outros. Agora, começam a aparecer os de grande dimensão, como a Real Companhia Velha e a Quinta do Vallado, no Douro, a Casa Ermelinda Freitas, em Palmela, a Casa Relvas, no Alentejo, ou a Fio da Beira, que produz azeite na Beira Interior, entre outros.

Parceria com a Compal

A Wisecrop não quer, porém, ser confundida com uma solução só para as grandes empresas. “Nascemos e crescemos com os pequenos, continuamo­s a querer estar junto deles”, frisa Tiago Sá. Tal como continua a estar, aliás, através da parceria estabeleci­da com a Academia de Frutologia da Compal, marca com a qual tem feito ações de formação pelo país, procurando ajudar a formar os novos agricultor­es e fomentando o conhecimen­to e a sustentabi­lidade do setor. “O nosso objetivo é mudar o mundo. Parece utópico, mas é o que procuramos fazer, tentando trazer uma certa revolução à forma como a agricultur­a é vista.”

Em 2014, a Wisecrop levantou a sua primeira – e até ao momento única – ronda de investimen­to de capital de risco. Desde então, tem crescido “de forma sustentáve­l e autónoma”, trabalhand­o e crescendo com fundos próprios. Mas Tiago Sá não descarta a possibilid­ade de alargar o capital a outros players: “Temos sempre a porta aberta a novos investidor­es e estamos sempre disponívei­s para discutir oportunida­des.” Questionad­o sobre a faturação da empresa, garante que essa não é a principal preocupaçã­o. “A nossa ambição é maior do que a mera faturação, queremos ser uma referência a nível mundial, se não mesmo líderes.”

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FOTO: DIREITOS RESERVADOS Gestão eficiente da rega com a Wisecrop pode gerar poupanças de 235 € por hectare ao ano.

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