Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
“Temos de passar dos petro-Estados para os Eletro-Estados”
O desafio é lançado por António Costa Silva, que alerta para o avanço da China na transição energética. Mas Clara de La Torre, da Comissão Europeia, acredita que a UE tem condições para liderar nos combústíveis verdes.
“A pandemia virou o mundo de pernas para o ar”, mas isso dá-nos uma oportunidade única para mudar de paradigma, até porque ela veio questionar o paradigma de segurança da própria espécie humana, disse ontem António Costa Silva, CEO da Partex, na abertura do segundo dia do Portugal Mobi Summit. “A crise sanitária transformou-se rapidamente numa crise económica e social mas isso é a ponta do icebergue. Quando escavamos estamos sentados sobre uma crise ambiental e climática sem precedentes”, alertou. Para o homem que delineou para o Governo o plano de recuperação económica 2020-2030, há que usar a informação (que cresceu 20 vezes nos últimos cinco anos) para a transformar em conhecimento e sabedoria e encontrar soluções.
E elas estão no hidrogénio, na energia solar, nos veículos autónomos, no digital ou nas cidades inteligentes, segundo António Costa Silva, que realçou algumas das consequências da pandemia: colapso brutal do consumo mundial de petróleo e gás, paralisação de segmentos inteiros da economia, como transporte aéreo, e efeito enorme nos mercados financeiros.
“O impacto em todo o sistema energético mundial é absolutamente avassalador e dá-nos oportunidade única de fazermos a transição energética” dos petro-Estados para os eletro-Estados, defendeu.
“É preciso investir nas energias renováveis 750 mil milhões de dólares por ano, três vezes mais do que estamos a fazer hoje, sob o risco de virmos a ser dominados por eletro-Estados, como a China, que já é o maior investidor na mobilidade elétrica e renováveis.
Mas realçou também que “devemos fazer uma aposta mais evidente no hidrogénio”, o gás mais abundante no universo, que, realçou, pode ser usado como matéria-prima, como backup das renováveis, competir na fileira da mobilidade e até no armazenamento. E não esquecer a energia solar, cujos custos de produção baixaram significativamente nos últimos anos.
“Se alguma coisa vai salvar a espécie humana é a capacidade de criar soluções: é apostar nos sensores, nos dados, na inteligência artificial e trabalhar com as máquinas, vão ser uma espécie de telescópio do século XXI”, comparou.
Na mesma linha, a diretora-geral adjunta para a Ação Climática da Comissão Europeia pede uma ação imediata e alinhada internacionalmente na indústria e no setor dos transportes para atingir a neutralidade climática em 2050. Clara de la Torre, que interveio na cimeira por via digital, crê que a nova legislação comunitária e os programas de incentivo a combustíveis descarbonizados vão permitir à europa liderar o mercado de combustíveis verdes.
“O hidrogénio limpo será crucial nesta transformação, especialmente quando estamos a descarbonizar os transportes pesados, mas também os transportes aéreos e navais. Mas tanto para os transportes elétricos como a hidrogénio, construir as necessárias infraestruturas é instrumental”, alertou.
A Comissão propõe que “em 2025 à volta de um milhão de novos pontos de recarregamento e de reabastecimento estejam prontas em toda a Europa, ao mesmo tempo que fará nova legislação para impulsionar a produção e utilização de novos combustíveis alternativos”, prosseguiu Clara de la Torre.
“Lançámos recentemente um plano de inovação em que investimos 10 mil milhões de euros, oriundos do sistema de comércio europeu. Abrimos candidaturas para propostas que possam implementar tecnologias que possam limpar o nosso sistema. Ao mesmo tempo, muito em breve, vamos lançar uma comunicação para lidar com uma estratégia de mobilidade mais sustentável e mais verde”, recordou Clara de la Torre.
“O nosso compromisso na transição para uma mobilidade com emissões zero requer também
António Costa Silva (em cima) abriu o segundo dia do Portugal Mobi Summit, falando sobre a transição energética. Num dia em que as comunicações e o 5G, estiveram em destaque, o secretário de Estado Hugo Santos Mendes (à direita), revelou a sua estratégia, enquanto o CEO da Altice criticou fortemente a entidade reguladora do setor.
“É preciso investir nas energias renováveis 750 mil milhões de dólares por ano, três vezes mais do que agora, sob o risco de virmos a ser dominados por eletro-Estados, como a China”.