Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Em casa de ferreiro, espeto de pau?
No final de 2016 a Newspaper Association Of America, que representava cerca de 2 mil publicações nos EUA e no Canadá, anunciou a sua transformação em News Media Alliance, refletindo a evolução do setor e passando a incorporar as diversas plataformas em que os grupos produtores de informação qualificada se desdobraram ao longo dos últimos anos, coexistindo o papel com os formatos digitais, mas também vídeo, streaming, etc. Esta evolução organizativa tem permitido duas coisas: refletir melhor as necessidades das empresas de media que vivem em diversas plataformas e, ao mesmo tempo, aumentar a sua capacidade negocial, nomeadamente com o duopólio Google-Facebook, e também melhorar a sua própria oferta comercial, adequando-a aos novos tempos e à alteração de hábitos dos consumidores. No fundo trata-se de espelhar a evolução para formatos online, nomeadamente os que são consumidos em dispositivos móveis.
A News Media Alliance publica estudos, promove conferências e debates e sobretudo tem um papel ativo no acompanhamento da evolução tecnológica, ajudando os seus mais de 2 mil membros a permanecerem a par das tendências e inovações. Já não faz sentido vender só uma página de jornal ou revista quando a empresa tem um site, uma aplicação e eventualmente um canal áudio ou vídeo. Todos os suportes contribuem para aumentar o alcance e a cobertura de um determinado título e faz cada vez mais sentido vender a sua capacidade de comunicação em bloco, com uma proposta que seja atraente para os anunciantes.
“A indústria de notícias e de media tem razões para estar otimista, todos os indicadores apontam para o facto de haver cada vez mais pessoas a querer notícias e informação”, afirmou o presidente da News Media Alliance, David Chavern, salientando: “Devemos estar focados nas novas formas de contactar e alcançar as necessidades das audiências e dos anunciantes e sublinhar que a publicidade em sites de notícias e nas publicações em papel continua a ser uma das formas mais eficazes para as marcas alcançarem os seus alvos. E é importante que os anúncios sejam cada vez mais adaptados transversalmente a todas as plataformas, tornando-os menos intrusivos e conseguindo aumentar o envolvimento com os consumidores.”
Como sublinha a News Media Alliance todas as indústrias se defrontam periodicamente com alterações tecnológicas e disrupções nos seus mercados e o desafio é que as organizações que produzem conteúdos noticiosos de qualidade possam sair mais fortes destes novos tempos. Para o conseguir é cada vez mais importante conhecer bem as audiências, fazer estudos que permitam perceber o que as pessoas querem ler, quais os vazios de informação que existem à espera de ser preenchidos e, claro, aproveitar todos os recursos para tornar a proposta informativa de cada organização mais conhecida e atraente, captando novos utilizadores.
Costuma dizer-se que “em casa de ferreiro, espeto de pau” – e muitos grupos de comunicação vivem nesse paradoxo, não encarando as suas marcas como produtos que o público precisa de conhecer e que devem corresponder aos seus anseios. Longe vai o tempo em que bastava que os ardinas gritassem as manchetes. Agora cada meio tem de conquistar leitores mostrando o fator de diferença que pode oferecer. Quando toda a gente puxa a mesma notícia para manchete perde-se posicionamento. E isso é o pior que pode acontecer, seja no papel ou no digital.