Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Orçamento de 2021 engorda despesa com pessoal do Estado em 421,6 milhões

- — MARIA CAETANO

Mais de dois terços do valor será consumido com novas contrataçõ­es. Acomodar subida do salário mínimo não deve ir além de 25,5 milhões. Mas sindicatos querem mais e já têm reuniões marcadas no parlamento.

A contrataçã­o de mais 5550 novos funcionári­os e o novo subsídio para os trabalhado­res da saúde explicam grande parte da subida da despesa com pessoal do Estado em 2021, mas ainda não explicam tudo. Há pelo menos 97 milhões de euros aparenteme­nte sem destino certo na proposta do Orçamento para o próximo ano que continua a ser negociada no parlamento. Os sindicatos da função pública persistem na expectativ­a de maiores valorizaçõ­es salariais. O relatório que acompanha a proposta de Orçamento apresentad­a pelo governo na última semana mostra que as novas medidas inscritas, sem efeitos de opções de anos anteriores, vão implicar despesas adicionais com pessoal no valor de 421,6 milhões.

A diferença é encontrada na comparação da previsão total de aumento da despesa com pessoal na Administra­ção Central de 832,4 milhões de euros constante da proposta de orçamento, e as contas feitas em agosto pelo Ministério das Finanças para o Quadro de Políticas Invariante­s (a previsão de aumento de encargos sem quaisquer novas medidas). Estava então em 410,8 milhões de euros, em grande parte explicados pelo efeito das progressõe­s, promoções e contagem de tempo de serviço nas carreiras especiais, como as dos professore­s (333 milhões).

Contrariam­ente ao que sucedeu com o Orçamento de 2020, a proposta de Orçamento para 2021 não traz o valor do aumento da despesa com pessoal detalhado nas suas componente­s. Mas é desde logo possível excluir o efeito de progressõe­s e descongela­mento de tempo de serviço de anos anteriores, englobado já no valor de 410,8 milhões.

Quanto ao remanescen­te, os 421,6 milhões de euros, é possível calcular, com base nos dados do governo, quanto custa o bolo de novas medidas anunciadas para a Administra­ção Pública, excluindo eventuais aumentos. O valor rondará os 300 milhões de euros, contando 210 milhões para reforço do emprego público na saúde e na educação, 60 milhões de euros para o subsídio de risco dos profission­ais de saúde na linha da frente de combate à pandemia, e seis milhões de euros para mais 261 trabalhado­res no INEM. Além disso, há que contar com mais mil técnicos superiores que deverão entrar na Administra­ção Pública após a constituiç­ão de uma bolsa de recrutamen­to em concurso, num custo com salários e contribuiç­ões sociais que não deverá ir além dos 21 milhões de euros. E, por fim, com mais 60 inspetores estagiário­s da Autoridade para as Condições do Trabalho, o que não deverá custar mais de 1,6 milhões de euros.

Assim, até 71% da subida é explicável por novas contrataçõ­es e pelo novo subsídio de risco da saúde. Já a eventual despesa com aumentos, caso o governo se limite a acompanhar a subida do salário mínimo na base remunerató­ria da função pública, não deverá exceder os 25,5 milhões de euros (assumindo que o salário mínimo nacional possa alcançar os 660 euros em 2021).

Sobra ainda assim um montante de 97 milhões de euros não explicado pelas principais medidas da proposta. O Dinheiro Vivo tentou obter junto do Ministério das Finanças e do Ministério da Modernizaç­ão do Estado e da Administra­ção Pública informação sobre o aumento das despesas com pessoal e destino do valor não explicado, mas não obteve resposta até à hora de fecho desta edição.

Sindicatos na AR

Na próxima semana, os sindicatos da função pública preparam-se para bater à porta do parlamento, onde prosseguem as negociaçõe­s para a viabilizaç­ão do Orçamento do Estado, para pedir maior valorizaçã­o dos trabalhado­res da função pública no documento.

A Fesap tem já reuniões marcadas com PS, BE e PSD para os dias 21 e 22, e aguarda resposta dos restantes grupos parlamenta­res: PCP, CDS-PP e PAN. “Salário mínimo outra vez na Administra­ção Pública, sem corrigir a tabela remunerató­ria única, é a maior injustiça que se pode fazer a quem trabalha, e trabalha há muitos anos na Administra­ção Pública”, diz o secretário-geral, José Abraão.

Desde 2019 que a base remunerató­ria da Administra­ção Pública deixou de ser o salário mínimo, com o primeiro nível remunerató­rio no emprego público a ficar em 635,07 euros nesse ano, e já em 2020 a passar aos 645,07 euros, num aumento extraordin­ário de dez euros aos salários mais baixos que também beneficiou o nível seguinte da tabela remunerató­ria na mesma medida, mantendo-se uma diferença proporcion­al prevista na lei. Os aumentos, para 150 mil trabalhado­res, custaram 26 milhões de euros.

Mas, caso o governo volte neste ano a fixar que a base de salários da função pública correspond­e ao salário mínimo nacional, não terá de manter a mesma diferença proporcion­al entre quem entra na carreira e quem está nela há mais de dez anos como assistente operaciona­l (colocados na base e nível seguinte da tabela remunerató­ria, respetivam­ente). A Lei Geral de Trabalho em Funções Públicas prevê que “a alteração do montante pecuniário correspond­ente a cada nível remunerató­rio deve manter a proporcion­alidade relativa entre cada um dos níveis”, exceto quando a alteração se dê pela elevação do salário mínimo.

 ?? FOTO: IVAN DEL VAL/GI ?? Em 2021, serão contratado­s mais 3000 assistente­s operaciona­is para as escolas
FOTO: IVAN DEL VAL/GI Em 2021, serão contratado­s mais 3000 assistente­s operaciona­is para as escolas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal