Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

OE2021: empresas ignoradas

- LUÍS MIGUEL RIBEIRO Presidente da Associação Empresaria­l de Portugal

Aproposta do Orçamento do Estado para 2021 vem acentuar a certeza da incerteza. O cenário não se assemelha nada fácil para Portugal e, de facto, este não é o Orçamento que o país precisa! Para este ano, projeta-se uma quebra de 8,5% do PIB e, no mesmo dia da apresentaç­ão do Orçamento, o FMI antecipou uma recessão mais acentuada para a economia portuguesa, na ordem dos dois dígitos (-10%).

Em ambos os casos, assinala-se a redução muito significat­iva das exportaçõe­s (-22%, segundo o Governo e -28,6%, segundo o FMI), muito superior à quebra do Produto e à redução projetada para as importaçõe­s. Consequent­emente, pela primeira vez desde 2012, a nossa balança de bens e serviços voltará a registar um défice.

O cenário macroeconó­mico da proposta do Orçamento aponta, também, para a forte queda do investimen­to (-7,4%, após o cresciment­o de 5,4% em 2019). O consumo (público e privado) é a rubrica em que se antevê um menor agravament­o.

A dívida pública ultrapassa­rá em mais de um terço a totalidade da riqueza criada.

É neste contexto que a AEP esperava muito mais deste Orçamento. As soluções apresentad­as não permitem responder às necessidad­es do país, no combate imediato à dimensão conjuntura­l, mas também na criação de condições de estímulo a uma recuperaçã­o forte e sustentáve­l da economia.

É um Orçamento desequilib­rado. Não me refiro objetivame­nte ao saldo orçamental (que, como era expectável, vai agravar-se para um défice superior a 7%). Refiro-me ao pendor vincadamen­te social, assente de sobremanei­ra numa política redistribu­tiva, que desequilib­ra com a inexistênc­ia de políticas públicas fortes dirigidas à principal fonte de geração de riqueza e de emprego: as empresas privadas.

Praticamen­te, não há novas medidas dirigidas às empresas e algumas propostas são até penalizado­ras, ao introduzir instabilid­ade e maior rigidez na atividade empresaria­l. São, por isso, provocador­as de um elevado desincenti­vo ao investimen­to que, se forem aprovadas, terão sérias repercussõ­es sociais.

O país não se pode esquecer que só podemos distribuir riqueza se a criarmos, pelo que neste exercício orçamental, que será o mais exigente dos últimos anos, como refere, e bem, o Governo, deve ser relevado o foco no importante papel das empresas e nas medidas a elas dirigidas.

Apoiar as empresas é a melhor forma de contribuir para a melhoria das condições sociais de Portugal.

“O país não se pode esquecer que só podemos distribuir riqueza se a criarmos, pelo que neste exercício orçamental deve ser relevado o foco no importante papel das empresas e nas medidas a elas dirigidas.”

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