Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
A urgência de limpar a energia e de humanizar as cidades dominou cimeira
A urgência de agir para tornar a vida na Terra mais sustentável do ponto de vista ambiental, mas também a nível social e económico, foi a ideia dominante da terceira edição do Portugal Mobi Summit. Uma necessidade ainda mais premente porque, como ressalvou Vera Pinto Pereira na sua intervenção,“as alterações climáticas não se vêem e este é um dos maiores inimigos deste combate”.
A presidente executiva da EDP Comercial lembrou que, já em 2015, “Bill Gates antecipou que poderia haver uma pandemia por esta altura que nos ia afetar a todos, mas ninguém reagiu porque não era visível”. E se, como diz, “é preciso tirar lições”, a gestora garante que a EDP está comprometida em liderar a transição energética e em ter um milhão de clientes com soluções de mobilidade elétrica em 2030. “Somos líderes, 80% da nossa produção já vem de energia limpa, mas queremos chegar a 90% em 2030”, revelou. Para Vera Pinto Pereira, só uma comunidade a trabalhar em conjunto permitirá desbravar o caminho para um futuro verde.
Na mesma linha, o CEO da Partex, António Costa Silva, observou que “a crise sanitária transformou-se rapidamente numa crise económica e social, mas isso é a ponta do icebergue, pois quando escavamos estamos sentados sobre uma crise ambiental e climática sem precedentes”. O momento oferece, no entanto, uma oportunidade para refletir e agir. Para o homem que traçou para o Governo a estratégia de recuperação 2020-2030, o hidrogénio, a energia solar, os veículos autónomos e as cidades inteligentes são algumas das soluções para a nova era.
“O impacto brutal em todo o sistema energético mundial é absolutamente avassalador e dá-nos oportunidade única de fazermos a transição energética para mudarmos o paradigma e olharmos para o futuro”, defendeu.
Mas, avisa, é preciso investir nas energias renováveis 750 mil milhões de dólares por ano, três vezes mais do que estamos a fazer hoje, sob o risco de virmos a ser dominados por eletro-Estados, como a China, que “está com os olhos postos no futuro” e já é o maior investidor na mobilidade elétrica e renováveis. Por isso, António Costa Silva defende que está na hora de evoluirmos dos petro-Estados para os eletro-Estados.
Até porque, como nos explicou Steve Oldham, CEO da Carbon Engineering, as emissões de dióxido de carbono permanecem na atmosfera por longas décadas, e mesmo séculos, sendo que ainda hoje somos herdeiros das emissões do período da Revolução Industrial. Essa é a razão pela qual a Carbon Engineering desenvolveu tecnologia para literalmente capturar Co2 da atmosfera, o que pode ser feito em qualquer parte do mundo e à escala planetária.
Porque não vivemos sem as cidades, todas as soluções sobre mobilidade sustentável ou transição energética têm de se centrar no modo de vida urbano, que está também ele a ser repensado em várias partes do globo. Há quem defenda que devem ser incentivados bairros mais autossuficientes e que as cidades devem começar a ser desenhadas com uma maior participação e representação das várias comunidades que a integram. Foi essa a mensagem deixada no Portugal Mobi Summit, pela arquiteta indiana Nidhi Gulati, diretora da ONG Projects for Public Spaces, com sede em Nova Iorque: “Para que as cidades posam finalmente ser mais humanizadas”.