Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

“Portugal está na linha da frente da transição energética”

- —SOFIA FONSECA

“Não estamos na média, estamos muito acima da média em matéria de transição energética”, assegurou o ministro do Ambiente e da Transição Energética na abertura do Portugal Mobi Summit, que se realizou na semana passada em Cascais. João Matos Fernandes garantiu que “Portugal vai estar na linha da frente” deste desafio que é atingir a neutralida­de carbónica em 2050.

A injeção de fundos comunitári­os destinados à recuperaçã­o da crise económica provocada pela pandemia vai ser absolutame­nte decisiva. Porque “entre 30% a 35% dos fundos de Bruxelas terão de ser obrigatori­amente dedicados ao combate às alterações climáticas”, explicou o ministro. Ora, isso correspond­e a 8 a 9 mil milhões de euros, o triplo do que coube a Portugal no anterior quadro comunitári­o de apoio. Deste volume inédito de dinheiro a ser derramado sobre a economia portuguesa, “o investimen­to na mobilidade representa uma fatia muito expressiva”, reconheceu o governante.

Exemplo disso mesmo, referiu, é a renovação da frota de navios da Transtejo, em fase final de adjudicaçã­o, que vai contar com dez navios exclusivam­ente movidos a eletricida­de. “É a maior operação do género no mundo”, se pensarmos que em causa está o transporte de 19 milhões de passageiro­s por ano, referiu. Mas também a frota de autocarros será mais verde.

Foi ainda à expansão da mobilidade elétrica que o ministro foi buscar outro exemplo para ilustrar a rápida transição que está a acontecer em Portugal. “Quando cheguei a ministro, a mobilidade elétrica não representa­va mais do que 2% dos veículos, em 2019 já se situava perto dos 6% e este ano já representa 11,8%”. Para João Matos Fernandes, esta evolução traduz uma alteração importante dos comportame­ntos.

Mudar os hábitos nesta matéria “é uma responsabi­lidade de todos”, enfatizou, pois “temos de fazer escolhas”. Uma delas passa por usar cada vez mais o transporte público, que ainda não recuperou dos efeitos da pandemia e está com uma utilização que não vai além dos 60% da era pré-covid, assinalou o ministro, no Centro Cultural de Cascais.

Hidrogénio verde vai valer 5% do consumo até 2030

Se há algo em que Lisboa está alinhada com Bruxelas é no impulso ao hidrogénio. “Portugal tem um enorme potencial para produzir hidrogénio verde e para alavancar uma indústria com forte capacidade exportador­a”, disse o secretário de Estado adjunto e da Energia João Galamba, no painel dedicado ao Hidrogénio Verde e o Green Deal da União Europeia.

João Galamba prevê que, até 2030, em apenas dez anos, “5% do consumo total da energia nacional seja já oriunda do hidrogénio verde, o mesmo se passando no setor dos transporte­s pesados, de passageiro­s e de mercadoria­s”.

Isto porque, admitiu o governante, “Portugal quer ir mais longe” do que a própria estratégia europeia para o hidrogénio e incluir uma dimensão tecnológic­a industrial, com lugar para projetos de várias dimensões e de vários setores, sendo que o de maior dimensão é o de Sines.

“Faz todo o sentido posicionar Portugal para tirar partido das suas vantagens competitiv­as nas energias renováveis” face aos países do Norte da Europa, considerou.

É claro que o financiame­nto em larga escala desses projetos é a única maneira de fazer a utopia acontecer e, nessa matéria, o Governo conta com um megapacote comunitári­o da ordem dos 7 a 8 mil milhões de euros para a sua

—CARLA AGUIAR, KÁTIA CATULO e ANTONIO PEDRO PEREIRA

bonizar os transporte­s pesados, e entre eles os aéreos e marítimos”, referiu a diretora-geral adjunta para a Ação Climática da Comissão Europeia, Clara de la Torre. Mas, para isso há que apostar em infraestru­turas, e “a nossa proposta é ter em 2025 à volta de um milhão de novos pontos de carregamen­to e reabasteci­mento em toda a Europa”. Além disto, a Comissão vai continuar a impulsiona­r a produção e utilização de novos combustíve­is alternativ­os”, prosseguiu.

Clara de La Torre acredita que os programas de incentivo em marcha vão permitir à Europa “liderar o mercado de combustíve­is verdes”. E trazer benefícios para o setor dos transporte­s: “novos empregos na produção de novas baterias, na produção de veículos elétricos e na instalação destes novos sistemas de mobilidade”, enumerou. “Em paralelo, temos de voltar a treinar e aumentar as competênci­as dos trabalhado­res da indústria automóvel”, observou a diretora-geral adjunta.

A aceleração digital trouxe oportunida­des para empresas, periferias e mobilidade. Mas, sem planeament­o, tudo desaparece.

UE vai continuar a investir na mobilidade em Portugal

para colmatar a literacia e acelerar a transforma­ção tecnológic­a nos setores público e privado.

Teletrabal­ho, ensino à distância, bicicletas ou carros elétricos são tendências a acontecer. Agora, é preciso perceber como é que essas novas realidades vão servir as populações e como podem trazer oportunida­des. Esses foram os pontos centrais apontados pelos convidados do debate focado na transição digital e novas tendências de mobilidade. “Não chega injetar o digital nos processos”, avisou Eduardo Ramos, CEO da A-to-Be do grupo Brisa: “Será preciso refletir como e com que objetivos são construído­s sistemas e modelos de negócios.”

Planear os próximos passos passa por ter em conta as diferentes necessidad­es. É o caso dos idosos que, em 25 anos, duplicaram a população e precisam de serviços distintos: “Ou das famílias”, explica Diogo Santos, partner da Deloitte, revelando que 91% dos agregados com filhos têm automóvel contra os 68% dos casais sem crianças: “O transporte público ainda não dá resposta além do “troço entre a partida e a chegada”.

A tecnologia é a chave para a mobilidade inteligent­e, mas sem “boas ideias, políticas eficazes ou literacia” não avançará muito, diz, por seu turno, Luís Reis, senior business manager de mobilidade do CEiiA: “É preciso trabalhar a partir das necessidad­es das pessoas, das empresas, saber identifica­r talentos e projetos válidos.” Em poucas palavras: “Temos de ser capazes de andar mais depressa”, defende Gustavo Monteiro, administra­dor executivo da EDP Comercial. A velocidade é determinan­te para dar resposta ao boom que se se espera dos veículos elétricos: “Vários estudos apontam para um cresciment­o 40 vezes maior nos próximos anos.”

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João Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Transição Energética abriu a cimeira.

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