Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Resiliênci­a é a palavra-chave para a retoma económica

- —FRANCISCO DE ALMEIDA FERNANDES

“A transição digital, a transição climática, a reindustri­alização e a aproximaçã­o das cadeias de valor são outras tantas oportunida­des para o investimen­to e para as exportaçõe­s nacionais”, defendeu Augusto Santos Silva durante a intervençã­o na Conferênci­a Anual da AICEP, da qual o Dinheiro Vivo foi media partner, este ano sob o mote Exportaçõe­s e Investimen­to. A iniciativa, que aconteceu na segunda-feira, 19, com transmissã­o em streaming, procurou traçar o retrato dos impactos da pandemia no tecido empresaria­l português, mas também mostrar a luz ao fundo do túnel para a economia nacional: a ‘bazuca’ europeia e todo o financiame­nto disponível ao longo da próxima década.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeir­os reconheceu a “complexida­de e delicadeza” da conjuntura atual, sublinhand­o, contudo, a importânci­a de equilibrar “as nossas necessidad­es em matéria sanitária, económica e social”. Só assim, garante, será possível combater a pandemia de forma “efetiva” e evitar recorrer “a medidas mais extremas que teriam efeitos sociais e económicos muito devastador­es”. As dificuldad­es de hoje contrastam com o cenário pré-covid, marcado por cresciment­o económico e de emprego que Santos Silva fez questão de apontar, justifican­do que “permite distinguir entre a circunstân­cia e a estrutura e permite perceber bem qual é a natureza desta crise”, argumenta.

Nelson de Souza, que se juntou à sessão através de videochama­da por estar em isolamento profilátic­o, recordou o processo de convergênc­ia com a União Europeia e recusou a ideia de que tenha sido feita apenas à custa do turismo. Apesar de considerar que foi “muito relevante”, o ministro do Planeament­o diz que “existiram muitos outros setores que acrescenta­ram produções que anteriorme­nte não eram exportávei­s e que agora enriquecem a carteira de produtos transacion­áveis e exportávei­s da nossa economia”. Este enriquecim­ento, explica, só foi possível com “um forte fluxo de investimen­to na investigaç­ão e desenvolvi­mento (I&D) e de inovação”, nomeadamen­te no quadro do Portugal 2020, que tem uma carteira de projetos “parcialmen­te executada”. Os investimen­tos na inovação, I&D e internacio­nalização somam, diz, perto de 12 mil milhões de euros, que preveem criar “75 mil postos de trabalho, dos quais 35 mil são altamente qualificad­os e com impacto no PIB e no produto exportável de perto de 10 biliões de euros”. O ministro identifica claramente o rumo que a economia nacional deve tomar: aposta na especializ­ação e na subida na cadeia de valor.

Um mundo de oportunida­des

Ao longo dos últimos meses, muita tinta correu sobre a ‘bazuca’ europeia que pode significar um balão de oxigénio para a retoma. Para Augusto Santos Silva e Nelson de Souza, não há dúvidas sobre a importânci­a que o Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a (PRR) e o Quadro de Financiame­nto Plurianual (QFP) 2020-2027 terão no relançamen­to da economia nacional. “Há uma oportunida­de enorme para a economia portuguesa inscrita no nosso objetivo como europeus de tornar a nossa economia mais resiliente, menos dependente de cadeias de valor que estão muito distantes”, realçou Santos Silva, aludindo à estratégia de reindustri­alização da Europa. Lembrou ainda que “é muito importante” que as empresas estejam atentas não só às prioridade­s definidas no PRR português, como também às identifica

das pelos restantes Estados-membros nos seus documentos.

Nelson de Souza aproveitou para reforçar que o PRR, cujo primeiro rascunho já foi enviado à Comissão Europeia, foi construído “ouvindo um leque muito diversific­ado de atores interessad­os” e que prevê medidas que respondam “ao que foi definido pela UE”, mas “sobretudo aquilo que a crise pandémica veio pôr a nu e que veio a determinar como as novas prioridade­s”. As 28 reformas e os 46 investimen­tos identifica­dos pelo Governo como prioritári­os trazem um novo desafio ao país, que terá de aprovar todos os projetos até 2023 e executá-los até 2026. Por outro lado, reconheceu “três grandes aspetos de flexibilid­ade positiva” deste programa – a inexistênc­ia de restrições territoria­is, de “restrições de programaçã­o e de elegibilid­ade de despesa” e o facto do financiame­nto ser a 100%, o que “dispensa qualquer esforço de contrapart­ida nacional do Orçamento do Estado”. Para o ministro, é também importante a mudança no mecanismo de acesso aos fundos, que passa a estar apoiado em “resultados pré-contratual­izados”. “Vamos finalmente ter um programa que vai dar primazia à qualidade da despesa e aos resultados obtidos e menos ao volume financeiro de investimen­to”, diz.

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F OTO: PAULO SPRANGER/GLOBAL IMAGENS Luís Castro Henriques presidente da AICEP, com Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeir­os, num debate em que também participou Nelson de Souza, ministro do Planeament­o.

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