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Horta Osório: Apoios concedidos devem ser “pontuais” para não agravar défice

- —CÁTIA ROCHA —ANTÓNIO HORTA OSÓRIO

Os apoios disponibil­izados por governos de vários países para enfrentar a crise pandémica também foram positivos para os bancos, afirma o banqueiro.

Para o CEO do Lloyds Bank os apoios disponibil­izados pelos governos de vários países, como o

lay off ou outras ajudas extraordin­árias tiveram um impacto positivo não só para as famílias e empresas mas também para o setor da banca. “As medidas que os governos fizeram, conjuntame­nte com autoridade­s de supervisão e com os bancos, incluindo o lay off, as moratórias e as garantias, foram absolutame­nte críticas para manter a capacidade produtiva das empresas disponível para poder arrancar quando a economia retomasse”, explicou, numa intervençã­o feita à distância, partir de Londres, devido às medidas de

lockdown impostas no país. O banqueiro português que lidera o banco britânico ressalvou não só os efeitos benéficos também para as famílias, para que pudessem adaptar ao choque súbito de um vírus imprevisív­el que afetou as rotas de cresciment­o ascendente­s de várias economias, a portuguesa incluída. Mas o banqueiro português sublinha que, de forma indireta, estas medidas acabaram também por ser benéficas também para a banca. “Isso não só foi positivo para empresas, para a economia e para as famílias mas foi também positivo para os bancos, porque caso isso não tivesse sido feito os bancos teriam obviamente sofrido muito mais o impacto do desemprego com as falências das empresas.”

Para o CEO do Lloyds, “os apoios disponibil­izados para enfrentar os efeitos da crise pandémica em Portugal são “absolutame­nte adequados a curto prazo”. No entanto, sublinha a importânci­a de que os apoios concedidos e “os próximos” sejam o mais possível “extraordin­ários e pontuais - que não se repitam em anos seguintes” para não agravar o défice orçamental do país a longo prazo.

Recordando que a covid-19 eliminou parte do trabalho de redução do défice feito nos últimos anos - incluindo o superavit registado no ano passado - Horta Osório reconhece que o previsível agravament­o do défice “é absolutame­nte correto”, especialme­nte num período em que há choque externo completame­nte imprevisív­el e que não é da responsabi­lidade de ninguém, como é o caso do covid”. “Era fundamenta­l que o governo atuasse através da política orçamental, concedendo apoios às empresas e às famílias para manter a capacidade produtiva e para apoiar as famílias para se poderem adaptar dado esse choque total”, frisou.

Malparado é “inevitável”

Embora reconheça que “os bancos estão mais fortes” hoje em dia, Horta Osório não esquece que muitos players do setor “partiram de uma posição de fragilidad­e” para enfrentar esta crise imprevisív­el e sem precedente­s. Ainda assim, sublinha que os bancos não fugiram ao desafio, tendo “feito parte da solução” no apoio à pandemia - mas isso acarreta também “uma responsabi­lidade adicional para o setor”.

Saudando os anúncios de vários bancos de que não irão distribuir dividendos pelos acionistas - a própria Caixa Geral de Depósitos afirmou na Money Conference que irá seguir as recomendaç­ões do regulador, que defende a retenção dos lucros para enfrentar a crise, António Horta Osório descreve que “inevitavel­mente vai haver aumentos de malparado no futuro”, algo que tem vindo a ser referido como expectável por vários banqueiros. “Os bancos têm estado a fazer isto [redução de malparado] de manei

“Era fundamenta­l que o governo atuasse através da política orçamental, concedendo apoios às empresas e às famílias.”

ra progressiv­a e na boa direção mas isto é uma fragilidad­e que já existia e que, devido à pandemia, deve ter uma atenção redobrada”, explicou o banqueiro.

Além do aumento do malparado na banca, Horta Osório pede ainda atenção a outras duas questões: o endividame­nto total da economia o envelhecim­ento da população, um “problema sério e com forte impacto”. Caso contrário, o país voltará ao nível de população registado em 1960, com um rácio de dependente­s que terá fortes encargos para a população ativa.

“Os bancos têm estado a fazer [redução de malparado] de maneira progressiv­a e na boa direção mas isto é uma fragilidad­e que já existia”

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António Horta Osório, CEO do Lloyds Bank (à direita).
Rosália Amorim, diretora do Diário de Notícias.
FOTOS: BRUNO LISITA/GLOBAL IMAGENS Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (em cima). António Horta Osório, CEO do Lloyds Bank (à direita). Rosália Amorim, diretora do Diário de Notícias.

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