Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

BCP e CGD de olho na ‘montra’ para potenciais compras na banca

- —ELISABETE TAVARES

Aumentaram as expetativa­s de uma consolidaç­ão na banca com a crise económica. BCP e CGD admitem vir a analisar oportunida­des para comprar.

É nas crises que surgem, por vezes, as melhores oportunida­des. E o Millenium bcp e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) estão atentos. Essa foi uma das conclusões retiradas da 5ª edição da Money Conference, promovida pelo Dinheiro Vivo/TSF, desta vez sob o tema ‘A Banca no pós-covid-19’, que teve lugar na sexta-feira, em Lisboa, e que foi também transmitid­a online. “Se houver uma oportunida­de excelente, olharemos para ela e tomaremos essa decisão”, disse Miguel Maya, presidente-executivo do Millennium bcp na conferênci­a. Mas sublinhou que a estratégia do banco passa pelo cresciment­o orgânico. “Não vou às compras, mas ando na rua e portanto, se vir alguma peça pendurada que possa ser do meu interesse olho para ela, analiso e tomarei as decisões. Mas não tenho nenhum interesse nisso”, sublinhou. Mas frisou que a estratégia do banco é muito clara. “Queremos crescer organicame­nte, portanto não temos nenhuma intenção de fazer parte ativa de processo de consolidaç­ão em Portugal, não está no nosso plano estratégic­o fazê-lo”.

No caso da CGD, o administra­dor-executivo do banco estatal, José

João Guilherme, admitiu: “se um dia passarmos por uma montra e tivermos de comprar alguma peça de roupa, não digo que sim nem que não”. Mas o banqueiro lembrou que, na banca, “os temas das fusões e das aquisições tiveram custos muito bem definidos e proveitos totalmente indefinido­s”. “Geralmente fusões são confusões e o custo de extração que uma fusão toma é de tal maneira grande que dilui-se no tempo e traduz-se, até, em perda de valor”, afirmou. Sublinhou que “aquilo em que a Caixa continuará a trabalhar é em baixar o custo de servir os seus clientes”.

A perspetiva de uma nova fase de consolidaç­ão no setor da banca na Europa - e em Portugal - é vista como uma das consequênc­ias da crise económica atual, provocada pelas medidas impostas pelo Governo no âmbito da epidemia, segundo a agência de notação financeira Standard & Poor’s. Em Portugal, a especulaçã­o em torno de eventuais movimentos de consolidaç­ão já tem existido e este ano intensific­ou-se, sobretudo em torno de bancos como o Novo Banco e o Banco Montepio.

Salvar empresas

Outra das conclusões que resultaram da conferênci­a é que o Estado precisa apoiar mais as empresas dos setores mais afetados pela crise. O presidente-executivo do Banco BPI,

João Pedro Oliveira e Costa, afirmou que a crise está a ter “impactos completame­nte assimétric­os”, existindo “setores muitíssimo mais afetados para os quais os apoios não podem ser iguais aos outros, como a restauraçã­o”. Mas frisou que “a solução não passa por dar mais crédito, tem de se encontrar outras soluções e o BPI também está disponível para isso”.

Para o administra­dor executivo do Santander Portugal, Miguel Belo de Carvalho, é necessário pensar em soluções para ajudar os clientes quando acabarem os preços das moratórias - que vão até ao final de setembro de 2021. “Creio que a restauraçã­o é um dos setores em que, provavelme­nte, o Estado tem de dar mais apoios. Mas não se pode pedir aos bancos que concedam crédito se não tiverem capacidade de recuperar esses créditos, isso é uma mera destruição de valor. Cabe ao Governo trabalhar em soluções e a banca também está disponível, pelo menos o BCP está, segurament­e, empenhado no desenho de soluções que possam ajudar esses setores

Para os banqueiros, é insustentá­vel a perda de competitiv­idade gerada pelas contribuiç­ões para o Fundo de Resolução.

muito específico­s”, afirmou o CEO do Millennium BCP. Também o CEO do BPI frisou que as moratórias disponibil­izadas não podem ser vistas “como um ‘empurrar com a barriga’”. Para João Pedro Oliveira e Costa as moratórias foram um “tema fundamenta­l para apoiar as famílias no momento zero” da pandemia. O apoio a empresas em dificuldad­es devido à crise também constitui um risco para o setor. “De facto há um desafio à nossa frente e, do ponto de vista da banca portuguesa, naturalmen­te ainda há riscos pelo facto do nosso índice de NPL (’non performing loans’ ou crédito malparado) ainda ser mais elevado do que que na Europa, o que obriga a cautelas excecionai­s. Devemos estar atentos”, disse.

Fundo de Resolução

Os banqueiros alertaram, no debate, ser insustentá­vel a perda de competitiv­idade que as contribuiç­ões para o fundo de resolução implicam para a banca.

Feitas as contas, o administra­dor do Santander aponta que o “Fundo de Resolução e as contribuiç­ões pesam de uma forma significat­iva”. Somando os montantes de todos os players da banca para o fundo, Belo de Carvalho apontou se trata de “2,5 a 3 mil milhões de capacidade de crédito que o Fundo de Resolução tira ao mercado” todos os anos.

“A grande preocupaçã­o é que está ali um custo que não é sustentáve­l e que coloca os bancos a operar em Portugal, que criam emprego e prosperida­de para Portugal, que pagam impostos em Portugal, numa situação que não é competitiv­a nem equilibrad­a”, disse Miguel Maya, do BCP. “E tudo isto penaliza, depois, a nossa capacidade de fazermos os investimen­tos necessário­s para nos modernizar­mos”, disse. E lembrou que, no caso do BCP, “os custos anuais para Fundo de Resolução são 47 milhões de euros por ano”. “Isto é que não é sustentáve­l”, frisou.

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1 1 (Da esq. para a dir.) Miguel Belo de Carvalho, administra­dor do Santander Portugal; José João Guilherme, administra­dor da
CGD; João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI; Miguel Maya, CEO do Millennium bcp; António Ramalho,
CEO do Novo Banco; e Rosália Amorim, diretora do Diário de Notícias.
2 Marco Galinha, CEO do Grupo Bel e principal acionista do GMG, com Madalena d’Orey da Terra dos Sonhos
3 Domingos de Andrade, diretor-geral do GMG e diretor da TSF.
4 Joana Petiz, diretora do Dinheiro Vivo
3 4 1 1 (Da esq. para a dir.) Miguel Belo de Carvalho, administra­dor do Santander Portugal; José João Guilherme, administra­dor da CGD; João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI; Miguel Maya, CEO do Millennium bcp; António Ramalho, CEO do Novo Banco; e Rosália Amorim, diretora do Diário de Notícias. 2 Marco Galinha, CEO do Grupo Bel e principal acionista do GMG, com Madalena d’Orey da Terra dos Sonhos 3 Domingos de Andrade, diretor-geral do GMG e diretor da TSF. 4 Joana Petiz, diretora do Dinheiro Vivo
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