Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Lidl reforça investimen­to e dá aumento salarial a todos os trabalhado­res

- —ANA MARCELA

Cadeia vai investir até 180 milhões. Braga recebe em dezembro novo super e 7500 colaborado­res vão ver rendimento aumentar.

Com a pandemia a levar ao fecho dos supers e hipers novamente neste sábado à tarde, depois de meses a funcionar com limitações no número de clientes em loja, no Lidl já se preparam os “tempos difíceis” que chegarão com 2021. Mas até fevereiro, fecho do ano fiscal de 2020-2021, a cadeia alemã conta investir até 180 milhões de euros, intervir em 24 lojas (das quais quatro novos supers) e garantir que todos os 7500 colaborado­res terão mais rendimento disponível através de um misto de aumentos e bónus.

Um “pacote de medidas que fará com que todas as pessoas que trabalham para o Lidl recebam mais dinheiro no próximo ano. Todos”, sublinha Alexander Frech, CEO do Lidl. “Não sabemos o que o futuro nos trará, mas sabemos que muitas famílias terão um desafio e queremos apoiá-los. Eles estão a apoiar-nos para satisfazer os clientes e nós estamos a apoiar as nossas pessoas”, justifica. “Espero que a nossa abordagem seja um sinal para que outras empresas, que tenham possibilid­ade de fazer este tipo de investimen­to, também o façam.”

Neste ano, o Lidl já tinha aumentado o subsídio de almoço (para 7,63€ por dia), atribuiu um bónus de 20% aos colaborado­res com funções continuada­s em temperatur­as negativas nos entreposto­s, em função do tempo de permanênci­a na câmara e depois, com o rebentar da pandemia em março, deu novo bónus, até 40% do salário base, para compensar os colaborado­res pelo trabalho adicional – “um cenário anormal e que esperemos que não se volte a repetir”. O próximo passo é mexer nos salários. “No ano passado aumentámos o escalão de entrada para 670€ (brutos), acima do salário mínimo nacional, a partir de agora no momento em que assinam um contrato prometemos um aumento salarial nos dois anos seguintes, até 820€”, anuncia Alexander Frech. Ou seja, uma valorizaçã­o de 22,4% em dois anos, no salário bruto (sem subsídio de alimentaçã­o).

Esta medida abrange os operadores de loja e armazém, o que significa que ,“em 2021, metade da nossa equipa irá receber um aumento automático atribuído através deste sistema”, precisa. “Temos pessoas há vários anos neste patamar dos 820€ (brutos) e vamos subir esse último nível para 870€. Ou seja, quem está neste escalão vai receber mais 50€, um aumento de 6%”, continua. “Acaba por ser uma situação onde ganham todos, quem entra e quem está connosco já há alguns anos”, justifica. E quanto aos colaborado­res de outras categorias profission­ais que neste ano fiscal estão no último escalão, “recebem um bónus de 3% do seu salário anual bruto, também em janeiro”, sintetiza o gestor, frisando que os trabalhado­res com contrato sem termo têm ainda seguro de saúde, com um valor comercial de 400€, tendo a empresa investido, no ano passado, 180 mil horas, cerca de 2 milhões de euros em formação.

“Para termos uma relação de longo prazo – o que pretendemo­s, já que investimos em formação – temos de lhes oferecer perspetiva­s, que podem estar relacionad­as com oportunida­des de desenvolvi­mento: 65% da nossa equipa de gestão começou como operador numa loja ou num centro logístico. Não é algo que está no papel, acontece todos os dias. As pessoas percebem que há hipótese de promoção, o que leva a uma maior motivação e satisfação.”

A medida surge num momento em que o tema do aumento do salário mínimo nacional em 2021 está na discussão pública, com a CIP a alertar para o potencial impacto dessa medida em empresas que, face à situação da economia, se debatem já com falta de liquidez e capacidade para pagar salários.

Investimen­tos na mira

No retalho, há mais de dois anos que sindicatos e cadeias – através da Associação de Empresas de Distribuiç­ão (APED) – discutem, sem sucesso, um novo contrato coletivo de trabalho. “No caso do Lidl oferecemos condições aos nossos colaborado­res acima daquelas que foram negociadas para o contrato em vigor ou que estão a ser discutidas. A título de exemplo, não temos tabelas salariais díspares entre loja e entreposto nem entre regiões diferentes do país e oferecemos um subsídio de refeição de 7,63€, máximo legal permitido sem encargos adicionais para o colaborado­r.”

As decisões do Lidl são tomadas também num ano em que, apesar das limitações do número de cliente em loja impostas pela pandemia, o retalho alimentar é dos poucos setores em que a crise parece estar a passar ao lado. Primeiro, foi a corrida aos supers, atingindo níveis de vendas recordes, mas o ritmo não tem abrandado. Só em setembro

gastou-se mais 36 milhões do que há um ano, e a empresa tem beneficiad­o dessa procura. Até agosto subiu 0,6 pontos percentuai­s, para 11,3%, a sua quota de mercado, enquanto Continente e Pingo Doce (os dois maiores retalhista­s) viram reduzida a sua fatia. Alexander Frech aponta esse ganho à aposta do grupo na expansão da rede e na maior portugalid­ade do sortido: até junho aumentaram em 15% as compras aos produtores/fornecedor­es nacionais. “Fomos dos primeiros a implementa­r as medidas de segurança (para a pandemia). Os clientes apreciaram e, por isso, estamos a ter um melhor desempenho do que os outros”, considera. Só nesta vertente, até junho, a cadeia investiu 9 milhões de euros.

Mas muito mais pensam investir na rede. “No ano fiscal passado estimávamo­s investir 150 milhões, mas acabámos por investir 180 milhões”, ou seja, uma subida de 44% face aos 125 milhões injetados no ano fiscal de 2018. Para este ano, “o plano inicial é termos mais ou menos este nível de investimen­to, em valor e em número de intervençõ­es nas lojas (24). Vamos investir entre 150 e 180 milhões de euros”, adianta o CEO. Das 24 lojas, quatro são novos supers: Bairro Azul, Barreiro e Santa Maria da Feira já abriram, e há uma quarta loja prevista para dezembro, em Braga. “Há outras calendariz­adas, mas é difícil perceber se acontecerá neste ou no próximo ano, mas pelo menos teremos quatro novas lojas.”

Num momento em que a pandemia levou muitos portuguese­s a descobrir os supers online e os concorrent­es a virarem-se para plataforma­s de entrega em casa dos clientes, no Lidl não há pressa para abrir online. “A nossa estratégia futura foi e será nas lojas físicas; ainda há potencial de cresciment­o”, defende. “Em Espanha trabalhamo­s com a Glovo, em Itália com o Supermerca­to 24. Temos alguns pequenos projetos dentro do grupo, por isso estamos a olhar para todo o lado. Há que esperar pelo momento certo para entrar no mercado com uma solução que seja para o longo prazo e de futuro.”

Reforço ao fim de semana

O fecho ao sábado e domingo à tarde – o fim de semana representa cerca de 20% da faturação semanal dos supers e hipers – fez mossa e apanhou a cadeia de surpresa. “O impacto na operação é inevitável”, admite o CEO. “No nosso caso, e de uma forma geral, houve uma perda de faturação, pois a afluência da parte da manhã não compensou o resto do dia”, reconhece. “Com o anúncio do encerramen­to do retalho alimentar às 13h, desde o passado sábado, verificámo­s um aumento na procura no dia de sexta-feira, ou seja, imediatame­nte a seguir ao anúncio por parte do governo. Para o fim de semana, reforçámos as equipas nas lojas.”

E não teme medidas mais restritiva­s? “O meu desejo é que o retalho possa continuar a alimentar Portugal, como fez ao longo de todo o anterior estado de emergência, em março e abril. Temos implementa­do um conjunto de medidas para garantir as compras dos portuguese­s em segurança, não sendo a ida às compras alimentare­s conhecido como foco de contágio”, reage. “O retalho alimentar tem prestado um importante apoio a toda a fileira agroalimen­tar, procurando também ajudar a escoar produtos que estavam destinados ao canal Horeca. Reduzir o acesso a bens alimentare­s terá naturalmen­te consequênc­ias junto de toda a cadeia de valor, fazendo com que o impacto infelizmen­te não seja apenas para nós.”

O CEO não arrisca fazer uma estimativa para o próximo ano fiscal. “Fazer uma previsão é muito difícil”, confessa. “Estamos a preparar-nos para o pior cenário e a ajustar-nos da melhor forma. Estamos a preparar-nos para tempos difíceis.”

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FOTO: PAULO SPRANGER/GI Alexander Frech, CEO do Lidl, continua a apostar nas lojas físicas.
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