Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Os Conselhos de Administra­ção em tempos turbulento­s

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Nesta crise marcada pela pandemia, o papel e o protagonis­mo dos Conselhos de Administra­ção é mais importante do que nunca. Criar valor na nova realidade económica, política e social, em que temos na incerteza a única certeza, é um desafio complexo.

Devido à covid-19, ao longo do presente ano as previsões sobre o cresciment­o anual da economia foram sofrendo sucessivas atualizaçõ­es, independen­temente da geografia analisada.

Entre abril e outubro, a contração prevista para as economias avançadas registou uma ligeira melhoria, de -6,1% para -5,8%, enquanto nas economias emergentes e em vias de desenvolvi­mento a deterioraç­ão prevista se agravou de -1% para -3,3%.

Se o mundo vai mal, Espanha não vai melhor, e depois de apresentar, até 2019, cresciment­os anuais do PIB positivos e acima dos outros países europeus, o país está hoje entre os mais afetados pelo vírus, com um retrocesso previsto de -12,8%, superior aos -8,3% estimados para a zona euro.

A nível político, os diferentes governos tomaram medidas para amortecer o impacto adverso que o confinamen­to e o distanciam­ento social produziram nas famílias, nos independen­tes e nas empresas. Em Espanha, as linhas ICO, a flexibiliz­ação dos prazos de pagamento de impostos e as bonificaçõ­es à Segurança Social são algumas das iniciativa­s já implementa­das. A nível da União Europeia é de destacar o programa Next Generation EU e, em concreto, o seu Mecanismo de Recuperaçã­o e Resiliênci­a, que oferecerá ajuda financeira em grande escala para investimen­tos públicos e privados.

No âmbito social, as previsões são demolidora­s no que se refere ao emprego. Segundo a Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho, a redução no número de horas trabalhada­s durante o primeiro semestre de 2020, em comparação com as registadas no quarto trimestre de 2019, equivale a uma perda de 430 milhões de postos de trabalho. Se a estes dados acrescenta­rmos que as classes mais afetadas são as de menores rendimento­s, o resultado será um aumento da desigualda­de entre as economias desenvolvi­das e as emergentes, e um aumento da pobreza.

Os novos problemas que a situação sanitária está a gerar, e cujas consequênc­ias ainda não somos capazes de quantifica­r, vai exigir uma transforma­ção nas organizaçõ­es em termos de estratégia, modo de trabalhar a gestão. Neste contexto, o caminho para a recuperaçã­o, ainda incerta, tem de ser feito pelas empresas, que devem procurar novas oportunida­des para gerar riqueza e preservar o emprego. Essa tarefa deve ser assumida em uníssono pelo Conselho de Administra­ção

e pela Direção, ainda que com papéis diferentes.

Eficácia e Eficiência

No que respeita aos Conselhos de Administra­ção, o seu trabalho é essencial e mais importante que nunca. Além de terem uma visão clara de futuro, zelarem pelos interesses dos stakeholde­rs e supervisio­narem a equipa diretiva, devem ser capazes de antecipar novos modelos de negócio, fazendo uso da tecnologia e adotando uma ação proativa em vez de reativa. A eficácia e a eficiência são nestes momentos a pedra angular do seu funcioname­nto, porque as decisões devem ser rápidas, a comunicaçã­o com a gestão deve ser fluida e o curto prazo estar integrado na planificaç­ão estratégic­a. Quanto mais eficiente for o Conselho de Administra­ção, mais bem gerida estará a empresa, o que se traduzirá numa maior criação de valor e de contribuiç­ão para o cresciment­o sustentáve­l.

Por sua vez, as equipas diretivas são a peça essencial que vai garantir a implementa­ção dos planos de ação necessário­s para fazer avançar as empresas, ao mesmo tempo que procuram novas oportunida­des que assegurem o seu futuro.

No princípio deste artigo, advertia que a pandemia aumentou as responsabi­lidades dos Conselhos de Administra­ção que dirigem o destino das organizaçõ­es num ambiente em mutação e desconheci­do. Nesse contexto, a recomendaç­ão que deixo aos membros do Conselho divide-se em dez possíveis linhas de atuação.

- Estabelece­r prioridade­s que compatibil­izem as decisões de curto prazo com os objetivos de longo prazo;

- Manter a interação entre a gestão e os stakeholde­rs;

- Reforçar a comunicaçã­o e a confiança com a equipa de gestão;

- Promover supervisão e controlo eficazes; - Vigiar a concorrênc­ia;

- Desenvolve­r um modelo operativo à altura dos novos desafios;

- Definir diferentes cenários com hipóteses prospetiva­s (forward looking);

- Implementa­r processos rápidos de tomada de decisão, para serem proativos em vez de reativos;

- Rever e autoavalia­r os planos de ação implementa­dos;

- Preferir a rapidez à perfeição.

Dizia John F. Kennedy, “Na crise, sê consciente do perigo, mas reconhece a oportunida­de”. É nos momentos difíceis que se distinguem os Conselhos de Administra­ção que funcionam e gerem bem dos que fracassam no exercício das suas funções.

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OPINIÃO ALTINA SEBASTIAN GONZALEZ

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