Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
A cooperação é uma ferramenta essencial para vencer na inovação
Responder às necessidades do mercado em tempo útil e com produtos inovadores exige trabalho cooperativo. Um aspeto que será destacado no 10.º encontro PME Inovação, da COTEC Portugal.
Planeamento, organização e aposta nas parcerias são alguns dos fatores-chave para que as empresas consigam levar a bom porto os seus processos de inovação. E, nos últimos anos, Portugal tem tido cada vez mais exemplos, que atestam que a aposta na inovação é, cada vez mais, uma constante.
“A inovação é uma ferramenta que as empresas estão a utilizar para se tornarem mais competitivas, mais capazes de responder aos desafios que o mercado lhes coloca, sem ter 100% do risco a seu cargo”, frisa Teresa Martins, presidente executiva e cofundadora da Neadvance, para quem as parcerias são um dos principais aceleradores do processo de inovação. “Começa-se a ter a colaboração entre empresas da área tecnológica, clientes finais e entidades do sistema científico”.
A CEO da Neadvance realça contudo que é essencial que as empresas tenham consciência que o ritmo da inovação não é o ritmo do mercado. “Este para mim é o ponto mais crítico: o momento em que levamos a inovação para o mercado não pode ser demasiado tardio mas, por outro lado, também tem de ser dado à equipa de inovação o tempo de que esta precisa”, alerta Teresa Martins, que destaca ainda outros aspetos a ter em conta. “É necessária uma simbiose entre o que foi o resultado da inovação e o produto final. O produto que resulta de um projeto de inovação é um protótipo que tem de ser ajustado, e há que investir para o produtizar o que foi o resultado da inovação. E esse custo pode tornar a ida para o mercado pouco competitiva”, alerta.
Um aspeto para que Júlio Grilo, diretor de inovação do Grupo Simoldes também chama a atenção. “Necessitamos de adicionar outros fatores à produção da inovação como a competitividade económica da inovação, a acessibilidade do mercado e também a complexidade intelectual. Não nos interessará ser muito inovadores e rápidos e termos despendido um orçamento enorme para o realizar sem que os resultados produzidos sejam economicamente acessíveis ao mercado”.
Nos últimos anos as empresas do Grupo Simoldes têm-se destacado pela rapidez de inovação, com o lançamento de vários produtos nos últimos anos. Para o responsável, a chave para o sucesso está num processo de pesquisa construído sobre um roteiro de inovação. “Temos um roadmap” de inovação a quatro anos, com cinco domínios de trabalho específicos que nos identificam as áreas em que criamos os projetos específicos de inovação”, explica Júlio Grilo que refere o tempo dedicado à revisão constante do roteiro como outro aspeto importante.
“Neste processo temos três pilares principais de revisão: a evolução do mercado e as tecnologias onde as grandes tendências são identificadas, um contacto permanente com os nossos clientes e o plano estratégico e tecnológico do Grupo Simoldes”, afirma o responsável.
A cooperação é outro dos aspetos-chave no percurso que permite transformar uma boa ideia num produto comercializável. A criação do ventilador Atena, pelo CEiiA, na passada primavera é disso um bom exemplo. “Um produto complexo como um ventilador invasivo não pode ser desenvolvido e produzido por uma única organização. Por isso foi determinante envolver desde o início quem sabe e usa este tipo de equipamentos médicos. O conhecimento dos médicos especializados, juntamente com as competências de engenharia do CEiiA, permitiu entender e definir os requisitos funcionais essenciais ao quadro de tratamento clínico da pneumonia aguda causada pela covid-19 e construir um produto alinhado com as necessidades clínicas”, explica Tiago Rebelo, diretor da Unidade de Produto e Desenvolvimento de Serviços, no CEiiA, que destaca ainda o apoio dos vários mecenas, universidades e centros de investigação.
“Portugal tem quadros de excelência nas áreas científicas e tecnológicas que vão desde a engenharia à medicina. Foram eles que através do seu esforço concretizaram este feito que, esperemos, se possa repetir em muitas outras indústrias e áreas tecnológicas”, afirma Tiago Rebelo, que aponta a necessidade de mais e melhores desafios semelhantes ao Atena para que tal possa acontecer. “A fixação nacional dos nossos quadros depende também destes desafios e da evolução das cadeias de valor nacionais”.
“O momento em que levamos a inovação para o mercado não pode ser demasiado tardio, mas tem de ser dado à equipa o tempo de que esta precisa.”
—TERESA MARTINS
CEO da Neadvance