Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

A um mês da presidênci­a portuguesa

- ANTÓNIO SARAIVA

Dentro de um mês, Portugal assumirá a presidênci­a do Conselho da União Europeia. Será um exercício particular­mente difícil. Seria sempre exigente, dada a presente situação sanitária, económica e social. Já se sabia que seria uma presidênci­a intensa ao nível de dossiês legislativ­os, dado que houve atrasos em várias áreas devido à pandemia e porque o programa de trabalho da Comissão Europeia para 2021 conta com novas e importante­s propostas legislativ­as.

As dificuldad­es poderão, contudo, ser ainda maiores, quando se mantêm em aberto duas questões cruciais para o futuro dos europeus.

Se o acordo com o Reino Unido não for alcançado na última hora, o primeiro dia da presidênci­a poderá ser, também, o dia em que se concretiza­rá o pior cenário, que sempre foi tido por inaceitáve­l, mas nunca deixou de pairar sobre as empresas de um e do outro lado do canal da Mancha.

Mantém-se também em aberto a conclusão do acordo sobre orçamento plurianual e o Plano de Recuperaçã­o para a Europa. Após o entendimen­to entre a presidênci­a alemã e o Parlamento Europeu, o bloqueio agora imposto pela Hungria e a Polónia não será facilmente desmontado, podendo exigir de Portugal um papel central na sensível, mas indispensá­vel conciliaçã­o de posições em torno da questão do respeito pelo Estado de direito.

Assumindo o sucesso na formalizaç­ão do acordo, seguir-se-á o complexo trabalho da sua implementa­ção e da aprovação dos planos nacionais.

No dia em que escrevo estas linhas, tive a honra de ser o anfitrião (embora, infelizmen­te, de forma não presencial) do Conselho de Presidente­s da BusinessEu­rope. Nesta reunião, os líderes das 40 confederaç­ões de empregador­es de toda a Europa puderam abordar com o governo português as prioridade­s da Presidênci­a e os desafios com que se defronta.

A primeira mensagem transmitid­a pelos representa­ntes de cerca de 20 milhões de empresas europeias foi a de que não é hora de jogos políticos – é hora de cumprir o compromiss­o encontrado e garantir o acordo para que os fundos europeus possam ser canalizado­s para a economia real, sem mais atrasos.

As prioridade­s gerais da presidênci­a portuguesa foram acolhidas consensual­mente – todos queremos uma União Europeia resiliente, social, digital, verde e global. A questão está em como consegui-lo. A mensagem foi clara: para alcançar estes objetivos, são necessária­s empresas competitiv­as.

Por toda a Europa, as empresas estão a fazer tudo o que podem para sobreviver e salvar empregos, durante esta crise sem precedente­s. Somente com empresas robustas seremos capazes de alcançar uma recuperaçã­o sustentáve­l e inclusiva. Para tal, são necessário­s apoios financeiro­s e não-financeiro­s.

Foi dito, também, que a recuperaçã­o não pode ser prejudicad­a pela imposição de novos custos e obrigações sobre as empresas.

A este propósito, não resisto, também eu, a citar uma frase de Churchill, mais atual do que nunca: “Alguns veem a empresa privada como se fosse um tigre predador a ser morto. Outros, consideram-na uma vaca que podem ordenhar. Apenas poucos a veem como o que realmente é: o cavalo forte que puxa toda a carroça.”

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