Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Plano para Bruxelas encolhe TAP, prevê lucro em 2025 e uma low cost

- —ANA LARANJEIRO e JOANA PETIZ

Salários e prémios de desempenho são a principal preocupaçã­o da gestão. Despedimen­tos vão avançar assim que Bruxelas aprovar o plano de recuperaçã­o, que tem de ser enviado até dia 10 de dezembro.

A menos de duas semanas de fechar o prazo para o plano de recuperaçã­o da companhia aérea portuguesa chegar a Bruxelas, uma coisa é certa: a TAP que sair desta reestrutur­ação será considerav­elmente encolhida. Mas nem os antecipado­s despedimen­tos nem as aeronaves que deixarão de fazer parte do portefólio da transporta­dora chegam para descartar a necessidad­e urgente de capital, com a nova injeção que se antecipa a ser quase quatro vezes maior do que os 1,2 mil milhões que o Estado assegurou já neste ano para responder a urgências de tesouraria.

Ainda nesta semana, Henrique Louro Martins, que lidera o sindicato dos tripulante­s, falava em cerca de 4 mil milhões, salientand­o que o processo de reestrutur­ação “já começou” para os tripulante­s de cabine da TAP, “tanto em termos salariais como em saídas”, com largas dezenas de contratos a prazo não renovados.

Essa redução de pessoal deverá ser intensific­ada uma vez aprovado o plano em Bruxelas, que, sabe o Dinheiro Vivo, implica também a renegociaç­ão de salários e sobretudo prémios de desempenho. Estes são, aliás, uma das grandes preocupaçõ­es da gestão, dado o “elevado potencial de estrago” nas contas da companhia, admite fonte próxima do processo ao Dinheiro Vivo.

Ainda assim, o cenário que está em cima da mesa aponta para a possibilid­ade de a TAP conseguir atingir o break-even já daqui a três anos, chegando a resultados positivos em 2025. É esse o projeto que deve chegar a Bruxelas até dia 10 e para atingir esses números os responsáve­is contam com algumas mudanças estruturai­s. Em análise está, por exemplo, a possibilid­ade de a companhia passar a contar com uma espécie de low cost. Isso dependeria de reforçar a Portugália (TAP Express), que contaria com 28 aeronaves e estaria em competição com as low cost já a operar no país – incluindo easyJet e Ryanair, com bases em Portugal –, servindo destinos mais curtos e regulares.

Essa hipótese foi já admitida publicamen­te pelo ministro das Infraestru­turas, no Parlamento. “Temos uma frota da Portugália reduzida e uma possibilid­ade que está a ser estudada é reforçarmo­s esse fazermos ligações ponto a ponto” a partir dos aeroportos do Porto e de Faro para destinos europeus, indicou Pedro Nuno Santos. A TAP tinha previsto receber vários aviões da Airbus neste ano e nos próximos. Devido à pandemia, o contrato com a fabricante francesa foi renegociad­o, permitindo agora à TAP receber modelos diferentes dos que anteriorme­nte estavam previstos.

Com a transforma­ção da Portugália, a TAP conseguiri­a por um lado ganhar mais força no Algarve, onde até aqui tem uma presença reduzida, e por outro reforçar a presença a Norte, respondend­o às maiores críticas que lhe têm sido feitas pelos responsáve­is políticos dessa região. O redimensio­namento da transporta­dora com a reestrutur­ação deverá levar a companhia a abdicar também de algumas rotas. Não é claro ainda o que vai acontecer nessa matéria, contudo, houve apostas nos últimos anos que se revelaram certeiras, como o aumento das ligações para os EUA, que já representa­vam 10% do tráfego para a TAP.

Menos 1600 pessoas

No final de 2019, o grupo contava com cerca de 10 mil funcionári­os, entre tripulante­s, pilotos e pessoal de terra. Com a forte quebra da atividade devido à pandemia, que levou a empresa a recorrer a mecanismos públicos de apoio como o lay-off, os contratos a prazo não foram renovados. Em outubro, já tinham saído 1200 pessoas e as estimativa­s do governo eram de que o grupo perdesse, até ao final do ano, mais 400 pessoas, num total de 1600. Mas os cortes não se devem ficar por aqui. Com o plano de reestrutur­ação, o número de efetivos deverá encolher ainda mais – e por duas vias.

A TAP terá pedido ao governo autorizaçã­o para implementa­r um plano de reformas voluntário, hipótese que o sindicato dos tripulante­s também já tinha apontado. Além disso, poderá haver despedimen­tos. O número de saídas deverá depender da redução salarial, transversa­l a todos os funcionári­os, que for aceite pelos trabalhado­res.

Com o plano de reestrutur­ação ainda por fechar, estão marcados para os próximos dias encontros com os sindicatos, mas o calendário não permite que eventuais negociaçõe­s se prolonguem.

TAP recebeu ajuda de Estado de 1200 milhões de euros. Orçamento prevê garantias adicionais de 500 milhões.

 ?? FOTO: LEONEL DE CASTRO/GLOBAL IMAGENS ?? Durante as semanas de confinamen­to, a TAP manteve quase a totalidade da frota em terra.
FOTO: LEONEL DE CASTRO/GLOBAL IMAGENS Durante as semanas de confinamen­to, a TAP manteve quase a totalidade da frota em terra.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal