Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Bons sonhos na almofada de Medina
De uma maneira ou de outra, com Pedro Nuno Santos, Luís Montenegro ou qualquer outro candidato às próximas legislativas, a política orçamental para o próximo ano já não será a que foi gizada pelo ministro das Finanças, Fernando Medina. O próprio PS votou na não continuidade da expressão “contas certas”, a favor da distribuição do excedente por setores profissionais mais descontentes. Esta é a almofada que o pai da geringonça tem para oferecer à esquerda na difícil batalha, depois de oito anos de governação socialista, contra a direita. Resta saber se o peso da direita mais radical vai ou não ensombrar o resultado eleitoral de Luís Montenegro, na soma de deputados com assento parlamentar que permitam uma estabilidade governativa à direita, caso seja a opção dos portugueses no sufrágio de 10 de março. É cedo para prognósticos, numa altura em que ainda está a aquecer o período de pré-campanha.
Fernando Medina deixa uma herança que agora irá vender sonhos aos portugueses. Onde irá gastar o próximo primeiro-ministro o excedente orçamental não é uma dúvida de somenos. É que todos os portugueses irão pagar mais tarde por esta escolha, por isso, é importante que estejam bem conscientes de quanto lhes irá custar. Numa altura em que o apertar de cinto é extremamente doloroso para as famílias, especialmente para as mais vulneráveis e para uma classe média já demasiado espremida, é tentador pegar nas poupanças e distribuir um pouco por aqui e por ali, apesar de os apoios não chegarem a todos. Só que o país precisa de reformas estruturais na Saúde, na Educação, na Justiça, nas infraestruturas mais críticas. O país precisa de um projeto coerente de futuro que nos retire do poucochinho onde estamos sempre enfiados, que faça com que os políticos não sejam os criativos dos paliativos que tiram uma dor aqui quando logo a seguir aparece outra ali.
Abater a dívida pública tem um nobre propósito para o futuro, quando sobrecarregamos menos as gerações futuras com os encargos de hoje e de ontem. Se não dermos esperança aos jovens num país que ofereça uma economia mais forte, com melhores empregos e melhores salários, com mais competitividade e mais produtividade, não vamos fazer mais do que exportar talento em charters cheios para os países das oportunidades. Estaremos condenados ao empobrecimento e à ignorância. Estaremos na cauda dos rankings até ninguém dar por nós, a não ser pelo sol, praias, poesia e um punhado de boa gente para receber os endinheirados estrangeiros que vão procurar este amigável povo, gerido por políticos com pouca ambição, que não ousam investir no seu maior capital.
Não precisava de ser adivinho para intuir que a era Costa não iria durar muito mais. O ilusionismo económico de quem dá com uma mão e tira sub-repticiamente com a mão dos impostos indiretos não dura sempre. O desinvestimento nas reformas estruturais é evidente pelo colapso do SNS e o desinvestimento na Escola Pública – pilares da nossa sociedade. Pela erosão dos casos e casinhos num Governo cheio de demissões, que segurou João Galamba e abriu guerras entre palácios – com um Presidente que ameaçou por diversas vezes usar a bomba atómica da dissolução do Parlamento e que foi ele quem este ano fez maior oposição que os partidos da Oposição. Apesar de ganhar terreno a necessidade de mudança – um sinal dado até pelo PS –, este Governo deixa os seus méritos no excedente e na dívida pública, que poderão ser a cola do próximo governo.