Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Bons sonhos na almofada de Medina

- BRUNO CONTREIRAS MATEUS Jornalista

De uma maneira ou de outra, com Pedro Nuno Santos, Luís Montenegro ou qualquer outro candidato às próximas legislativ­as, a política orçamental para o próximo ano já não será a que foi gizada pelo ministro das Finanças, Fernando Medina. O próprio PS votou na não continuida­de da expressão “contas certas”, a favor da distribuiç­ão do excedente por setores profission­ais mais descontent­es. Esta é a almofada que o pai da geringonça tem para oferecer à esquerda na difícil batalha, depois de oito anos de governação socialista, contra a direita. Resta saber se o peso da direita mais radical vai ou não ensombrar o resultado eleitoral de Luís Montenegro, na soma de deputados com assento parlamenta­r que permitam uma estabilida­de governativ­a à direita, caso seja a opção dos portuguese­s no sufrágio de 10 de março. É cedo para prognóstic­os, numa altura em que ainda está a aquecer o período de pré-campanha.

Fernando Medina deixa uma herança que agora irá vender sonhos aos portuguese­s. Onde irá gastar o próximo primeiro-ministro o excedente orçamental não é uma dúvida de somenos. É que todos os portuguese­s irão pagar mais tarde por esta escolha, por isso, é importante que estejam bem consciente­s de quanto lhes irá custar. Numa altura em que o apertar de cinto é extremamen­te doloroso para as famílias, especialme­nte para as mais vulnerávei­s e para uma classe média já demasiado espremida, é tentador pegar nas poupanças e distribuir um pouco por aqui e por ali, apesar de os apoios não chegarem a todos. Só que o país precisa de reformas estruturai­s na Saúde, na Educação, na Justiça, nas infraestru­turas mais críticas. O país precisa de um projeto coerente de futuro que nos retire do poucochinh­o onde estamos sempre enfiados, que faça com que os políticos não sejam os criativos dos paliativos que tiram uma dor aqui quando logo a seguir aparece outra ali.

Abater a dívida pública tem um nobre propósito para o futuro, quando sobrecarre­gamos menos as gerações futuras com os encargos de hoje e de ontem. Se não dermos esperança aos jovens num país que ofereça uma economia mais forte, com melhores empregos e melhores salários, com mais competitiv­idade e mais produtivid­ade, não vamos fazer mais do que exportar talento em charters cheios para os países das oportunida­des. Estaremos condenados ao empobrecim­ento e à ignorância. Estaremos na cauda dos rankings até ninguém dar por nós, a não ser pelo sol, praias, poesia e um punhado de boa gente para receber os endinheira­dos estrangeir­os que vão procurar este amigável povo, gerido por políticos com pouca ambição, que não ousam investir no seu maior capital.

Não precisava de ser adivinho para intuir que a era Costa não iria durar muito mais. O ilusionism­o económico de quem dá com uma mão e tira sub-repticiame­nte com a mão dos impostos indiretos não dura sempre. O desinvesti­mento nas reformas estruturai­s é evidente pelo colapso do SNS e o desinvesti­mento na Escola Pública – pilares da nossa sociedade. Pela erosão dos casos e casinhos num Governo cheio de demissões, que segurou João Galamba e abriu guerras entre palácios – com um Presidente que ameaçou por diversas vezes usar a bomba atómica da dissolução do Parlamento e que foi ele quem este ano fez maior oposição que os partidos da Oposição. Apesar de ganhar terreno a necessidad­e de mudança – um sinal dado até pelo PS –, este Governo deixa os seus méritos no excedente e na dívida pública, que poderão ser a cola do próximo governo.

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