Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Autonomia das escolas e sucesso dos alunos – duas realidades que andam a par?

O efeito da autonomia das escolas no desempenho dos alunos esteve em debate com o investigad­or Pedro Freitas e o presidente da Iniciativa Educação, Nuno Crato.

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“Uma maior autonomia das escolas aparece associada a melhores resultados por parte dos alunos. Esta é a conclusão dos estudos mais recentes, que não deixam de referir a importânci­a do desenvolvi­mento económico e social para este sucesso. Cientes de que as receitas de outros países não podem ser transferid­as diretament­e para a realidade nacional, Pedro Freitas, investigad­or do centro de economia da educação da Nova SBE, e Nuno Crato, presidente da Iniciativa Educação, debateram o tema no último episódio do Educar tem Ciência, um projeto da Iniciativa Educação, em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo.

“Há a perceção de que quem está mais junto dos problemas é quem conhece melhor a realidade e, por isso, pode resolvê-la melhor”, referiu Pedro Freitas, para quem é importante explicitar o princípio teórico subjacente à valorizaçã­o da autonomia das escolas. E se as vantagens do princípio são inegáveis, também é importante ter consciênci­a dos eventuais problemas: “Não queremos cada escola com objetivos muito diferentes. Queremos que os alunos tenham objetivos curricular­es comuns e que caminhem todos na mesma direção.”

De referir que Portugal, quando comparado com a média da OCDE, tem um menor grau de autonomia. “O que tem acontecido em Portugal é mais uma transferên­cia de responsabi­lidades do Estado Central para a Administra­ção Local, que não significa exatamente autonomia, mas uma transferên­cia de gestão operaciona­l”, explica Pedro Freitas.

“Uma maior autonomia da escola permite que esta se possa adaptar melhor às necessidad­es dos seus alunos. Mas, para que isso aconteça, é necessário que exista uma avaliação externa que permita saber até que ponto a escola está a responder às necessidad­es de formação dos alunos”, alertou Nuno Crato, que sublinha que a autono

mia não pode ser vista como um fim em si mesmo.

O que diz a ciência

Por sua vez, Pedro Freitas citou um estudo que, entre os anos 2000 e 2009, recolheu dados do PISA (num total de 42 países e mais de um milhão de alunos), e correlacio­nou os resultados dos alunos com medidas de maior ou menor autonomia das escolas. “O que o estudo conclui é que a autonomia leva a melhores resultados, mas apenas em sistemas de ensino integrados em economias desenvolvi­das. Isto significa que, para a autonomia funcionar, temos de ter um sistema de ensino formal estabiliza­do, em que as pessoas confiam”, referiu o investigad­or, que lembrou que o mesmo estudo mostrou que a autonomia funcionava melhor nos países onde os instrument­os de avaliação externa

também eram eficazes.

A lume veio ainda o caso do Reino Unido onde, desde o início deste século, tem havido uma transferên­cia de meios e uma maior autonomiza­ção das escolas. “Temos evidência que os resultados nestas escolas melhoraram e que não houve um processo de seleção dos alunos, houve escolas com maior capacidade de captar professore­s, e queda nas taxas de comportame­nto criminal dos alunos”, referiu Pedro Freitas, para quem é essencial que exista confiança por parte dos professore­s para que a autonomia funcione.

Já Nuno Crato alertou para a necessidad­e de recursos suplementa­res. “Não podem ter apenas os recursos estritamen­te alocados às aulas imprescind­íveis. Se isso acontecer, do ponto de vista administra­tivo, a autonomia quase desaparece porque toda a gente tem sempre todo o tempo ocupado e não há hipótese para fazer outras coisas muito importante­s”, referiu, dando como exemplo o apoio a alunos com mais dificuldad­es.

“Há regras que tiramos dos estudos recentes: é bom haver autonomia, mas é bom que esta tenha meios. É bom que as escolas tenham uma avaliação externa e é bom que se crie confiança. E isso não é algo que se crie de um dia para o outro”, concluiu Nuno Crato.

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O investigad­or Pedro Freitas e Nuno Crato.

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