Correio da Manha - Domingo

UMA VIDA MAIOR QUE UM ROMANCE

Conheceram-se nos anos 60, em Lisboa. Ela enviuvara de um amigo dele, ele teve pena e empregou-a como sua secretária. Não demoraram a tornar-se amantes. Rosalina Ribeiro cuidou do industrial até à morte dele e acabou assassinad­a em 2009

- Por Fernanda Cachão

Há vidas maiores que muitos romances, como a de Tomé Feteira, industrial que morreu quase aos cem anos de idade, na entrada deste século, e que viveu o anterior entre os grandes como um deles: saiu de Vieira de Leiria, expandiu a fortuna da família até se tornar, na década de 50, num dos mais ricos do Mundo, com fama e proveito de Angola ao Brasil; viveu paixões com muitas mulheres e entre todas elas a mais fiel, Rosalina, a secretária discreta que o acompanhou nos últimos 30 anos de vida. A disputa pela herança continua até aos dias de hoje, quando o nome do industrial volta à ribalta com a vinda para Portugal do processo da morte da secretária, encontrada em 2009, numa estrada de terra batida em Saquarema, em Lagos, Brasil, com dois tiros no corpo. Um antigo deputado e homem de mão de Cavaco, Duarte Lima, está acusado.

A15 de dezembro de 2000, quando o caixão de Lúcio Tomé Feteira (a partir de certa altura o nome do meio ganhou um h) saiu em ombros da sala com o seu nome da Biblioteca de Instrução Popular de Vieira de Leiria, encerrava-se o último capítulo da vida de um homem que nos anos 20 chegou a ser um dos mais ricos do mundo, amigo de reis, presidente­s e barões da finança, amante de várias mulheres e industrial visionário com fortuna em áreas como a vidraria, a agricultur­a e o imobiliári­o. Mas nesse dia iniciava-se outro capítulo, não menos conturbado, da luta pela herança de milhões (não se sabe ao certo quantos) que este homem, que dá nome a uma rua no Rio de Janeiro, no Brasil, deixou e que 20 anos depois da sua morte ainda se encontra sem destino.

Nesta história há também um crime por resolver, com a morte de Rosalina Ribeiro, secretária e amante de Tomé Feteira durante 32 anos. Não faltam, portanto ingredient­es à trama: amor e traição, uma filha ilegítima, muito dinheiro, dezenas de herdeiros, um assassínio e pormenores que parecem ficção, não soubéssemo­s nós que a realidade ultrapassa sempre a imaginação mais fértil. Rosalina Ribeiro, que conheceu Tomé Feteira nos anos 60, deixou escrito em testamento que lhe fossem cortadas as artérias dos pulsos e que o seu corpo fosse cremado (segundo uma amiga, tinha pânico de ser enterrada viva e assim garantia a morte), mas acabou assassinad­a com dois tiros, na cabeça e no peito, em 2009. O corpo foi abandonado na berma de uma estrada de terra batida em Saquarema, Lagos, no Brasil, e encontrado por uma mulher de uma família pobre que ali vivia.

Rosalina, então com 74 anos, tinha com ela todos os seus pertences – não era a típica vítima de assalto que tantas vezes dava o último suspiro à beira daquela mesma estrada. Ela tinha entrado com um processo na justiça para ser considerad­a companheir­a de

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