Correio da Manha - Domingo

COMO SORRIR COM MÁSCARA?!

- VICTOR BANDARRA JORNALISTA ANTIGA ORTOGRAFIA

É uma alg ar viavelhinh­a, fininha, encurvada. M ás caraàban dana face rugosa, aproxima-se dos forasteiro­s mascarados que cirandam por ali, na calçada à beira-mar, em gozo do sol outonal do Algarve. Ganha uns dinheirinh­os a vender frutos secos e recordaçõe­s aos turistas .“E os senhores nunca ti ramas máscaras ?” Ela avança e os visitantes tomam as intuitivas precauções. Dão uns passos atrás e riem-se .“Olhe que a senhora tem que pôr bem a sua máscara! temo narizàm ostra !” E logo brota a conversa, toda ela à volta do vírus que anda por aí.

O medo, a ansiedade e a incerteza alastraram em poucos meses, como alerta :“Cuidado como vírus da china .” Foi a“chamadado trovão ”, segundo aMedicinaT­r adicional Chinesa. Depois, a negação :“Issoé lá na china, nunca há-de chegar aqui .”

Mas chegou. E logo a seguir, o medo: “O queéquen os vaia contecer?”P assou-se depois à fase do desconfort­o e da tristeza, a “travessia do deserto”. Passo a passo, entranham-se novos hábitos e até alguma serenidade. Mas antes do fim da aventura, como aceitar a ideia da chanceler alemã Angela Merkel, que propôs substituir o habitual aperto de mão por um sorriso? Não é fácil. Até há menos de um ano, havia regras culturais centenária­s para os apertos de mão. Na tradição chinesa, o aperto não podes er muito forte eéacompanh­ad opor uma leve reverência com a cabeça. É proibido o contacto visual. Já as australian­as, não trocam apertos de mãos com outras mulheres. Alonga duração doa pertoéa caracterís­tica típica dos mexicanos, os campeões latinos da bacalhoada. Ao contrário dos americanos, os britânicos não vão à bola com fortes apertos de mão e, mesmo antes da Covid, sempre mantiveram as devidas distâncias físicas. De MarrocosàT­ailând ia, da Coreia do Sulà Noruega, a etiquetado aperto de mão varia( ou variava) muitíssimo.

Na conversa de mascarados no Algarve, ninguém pensa sequer em apertos de mãos. A velha senhora vai descaindo a máscara e avançando a passinhos curtos. Os turistas não têm outro remédio senão recuar. À hora da despedida, o convite da algarvia .“A tão não lhes posso vera cara? Tiremláiss­o!” Desculpas dos forasteiro­s. A velha senhora não sabe com certeza da proposta de Angela Merkel, mas não tem dúvidas: para se cumpriment­ar alguém com um sorriso é preciso... tirar a máscara. E foi o que ela fez. Tiveram os precavidos mascarados o privilégio de receber um luminoso sorriso de despedida.

“À hora da despedida, o convite: ‘Atão não lhes posso ver a cara? Tirem lá isso!’

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