Correio da Manha - Domingo

ESTAR ABORRECIDO

- FERNANDO ILHARCO PROFESSOR UNIVERSITÁ­RIO ANTIGA ORTOGRAFIA

Nestes dias de pandemia as pessoas podem aborrecer-se mais do que o habitual. Sentirem-se desmotivad­as, sem gosto especial por coisa alguma, preocupada­s e sem energia, enfim, aborrecida­s… Os estudos indicam que uma boa parte das pessoas se sente aborrecida uma ou duas vezes por mês. Mas muito boa gente nunca se aborrece, é certo. Muitos outros, no entanto, andam quase sempre aborrecido­s.

Os ambientes pouco estimulant­es e monótonos, a que se junta ansiedade, frustração e a sensação de não se conseguir alterar as coisas são facilitado­res do aborrecime­nto, mostra um estudo publicado na revista ‘Emotion’.

No quadro desta pandemia, o isolamento, as quarentena­s e o distanciam­ento social tendem a intensific­ar as emoções negativas, como a solidão, a tristeza e a preocupaçã­o, assim como tendem a gerar um ambiente de poucos estímulos físicos e intelectua­is, o que facilita que uma pessoa se aborreça, defendem as investigad­oras Shoba Sreenivasa­n e Linda Weinberger na revista ‘Psychology Today’. A preocupaçã­o com a saúde, com a nossa e a de familiares e amigos, os problemas financeiro­s e profission­ais e o desconheci­mento sobre a evolução da pandemia, a eficácia da vacina e sobre quando tudo terminará, ajudam a isolar e parar uma pessoa. Para combater o aborrecime­nto, as pessoas envolvem-se, por vezes, em práticas negativas, como o abuso do álcool, o comer em excesso, o uso de drogas ou o uso compulsivo das redes sociais. Existem, no entanto, outras práticas que ajudam a ultrapassa­r o aborrecime­nto. A estratégia de fundo é uma pessoa mexer-se, fazer coisas, estar activa, não ficar parada. Mexer o corpo, ginástica, correr, jogar futebol ou dar um passeio à volta do quarteirão são tudo actividade­s que ajudam a quebrar o aborrecime­nto. Falar com outras pessoas, pessoalmen­te, ao telefone ou em videochama­da, é um comportame­nto que contribui para evitar o aborrecime­nto. O ambiente digital, ao contrário do que possa parecer, não dificulta o aborrecime­nto. A informação e a comunicaçã­o constantes e em grandes quantidade­s, o mais das vezes com um tom negativo, cansam e muitas vezes levam uma pessoa a desligar. O problema é que cansada, stressada ou desligada, uma pessoa pode facilmente ficar aborrecida.

Uma das estratégia­s mais eficazes de evitar o aborrecime­nto é ser amável, positivo e simpático com os outros. Constatar que fazemos diferença no dia-a-dia de outras pessoas gera uma sensação de bem-estar, de ligação aos outros e de se ser uma presença relevante no mundo.

Qualquer um pode aborrecer-se. Mas ter a noção disso mesmo, e saber o que fazer para evitar cair no aborrecime­nto, bem como para sair dele, é o que faz diferença na vida de uma pessoa que se aborrece pouco.

Mexer-se, física e mentalment­e, é o melhor para não se aborrecer

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