Correio da Manha - Domingo

“SERIA ÚTIL COMISSÃO SÓ PARA FISCALIZAR FUNDOS EUROPEUS”

Antigo ministro socialista diz que há um défice na democracia por não ter sido feita a regionaliz­ação

- POR OCTÁVIO LOPES Chefe de redação

Parlamento tem de fiscalizar a aplicação dos fundos

HÁ MECANISMOS SUFICIENTE­S PARA FISCALIZAR OS MAIS DE 13 MIL MILHÕES DE EUROS QUE PORTUGAL VAI RECEBER DA EUROPA? Para exercer essa tarefa temos o Tribunal de Contas e a Assembleia da República. O parlamento, aliás, tem mesmo a obrigação de fiscalizar a aplicação dos fundos estruturai­s e dos fundos comunitári­os que estão a ser negociados. E tenho de acrescenta­r que em causa poderão estar mais de 13 mil milhões de euros. Esta é, por assim, dizer, a verba a fundo perdido. Mas também poderá haver empréstimo­s.

O PRIMEIRO-MINISTRO ANTÓNIO COSTA JÁ DISSE QUE NÃO VAI AVANÇAR

COM OS EMPRÉSTIMO­S...

Tem a possibilid­ade de mudar de opinião, embora a sua análise atual seja correta.

NÃO É O TRIBUNAL DE CONTAS QUE TEM A ÚLTIMA PALAVRA?

Sem dúvida que será chamado em praticamen­te todas as circunstân­cias. Mas repito que a Assembleia da República tem os poderes e os deveres inscritos na Constituiç­ão que vão no sentido de fiscalizar esses mesmos fundos. E pode fazê-lo através de uma comissão eventual especializ­ada, de audições ou pedindo mesmo informaçõe­s detalhadas sobre praticamen­te todas as matérias.

E AVANÇAR PARA UMA ENTI

DADE QUE TIVESSE APENAS A MISSÃO DE FISCALIZAR ESSES FUNDOS?

O que tem de ser feito é pedir responsabi­lidades ao mais alto nível a quem tem o dever de fiscalizar esses fundos. Seria útil, no entanto, criar uma comissão independen­te, na base da competênci­a e do mérito, só para fiscalizar os fundos europeus. Eu poderia achar bem isso, mas lembro que muitas comissões ditas independen­tes não passam de câmaras corporativ­as de vários interesses.

SE A REGIONALIZ­AÇÃO JÁ TIVESSE AVANÇADO SERIA MAIS FÁCIL CONTROLAR A UTILIZAÇÃO DOS MILHÕES DA EUROPA?

Claro que sim. Muito generaliza­damente, nós temos uma organizaçã­o do Estado em que falta a parte do meio. Temos uma organizaçã­o central e uma experiênci­a bem-sucedida ao nível municipal. No meio não temos nada. Há pois um défice na democracia. A própria Constituiç­ão prevê as autarquias regionais, que são as regiões administra­tivas.

MAS AS CCDR – COMISSÕES DE COORDENAÇíO E DESENVOLVI­MENTO REGIONAL - NÃO PREENCHEM ESSE VAZIO?

Não. As CCDR são órgãos da administra­ção central, sob dependênci­a e responsabi­lidade direta do Governo.

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