SEM JEITO NENHUM
Senão é a tempestade perfeita, parece. por um lado, o ambiente digital, o uso constante das redes sociais, do Facebook, Instagram, Whatsapp, etc., a facilitar as comunicações à flor da pele, imediatas, emocionais, conflituosas; por outro lado, o distanciamento social, as máscaras e os confinamentos a reduzirem o contacto social e a diminuírem a sua qualidade. As pessoas estão a ficar mais desajeitadas socialmente, menos aptas a comunicar positiva e construtivamente umas com as outras.
Tal como a boa forma física, que se mantém fazendo exercício, ou a competência a tocar piano ou a liderar, que se mantêm e melhoram continuando a tocar piano e a liderar, o bom relacionamento, a comunicação envolvente, positiva e persuasiva não se mantêm nem melhoram se não se comunicar diariamente, cadenciadamente. As competências de relacionamento, o saber iniciar e manter uma boa conversa, ganham-se muito no dia-a-dia, na prática. As pessoas que se separam da sociedade, por obrigação ou por escolha – presos, exploradores, ermitas, astronautas, etc. –, têm referido sistematicamente as dificuldades por que passam quando regressam à vida normal. Sentem nervosismo, ansiedade, intolerância, incapacidade, etc. e demoram tempo a adaptar-se; quando se adaptam, porque muitos mudam a maneira de ser depois de atravessarem experiências de isolamento. Psicólogos e neurocientistas, citados num trabalho recente no ‘New York Times’, dizem que algo semelhante pode estar a acontecer nesta pandemia – “as pessoas partilham documentos a mais nas reuniões online, reagem exageradamente ao comportamento dos outros, interpretam mal o que os outros dizem, sentem a falta do contacto com os outros… mas, depois quando isso acontece não gostam assim tanto…” O relacionamento social é uma actividade complexa, que requer prática e ajustamento constantes. São já oito meses de confinamentos, distanciamento social, máscaras, etc. As pessoas parecem sentir-se mais desconfortáveis umas comas outras do que o habitual. ao mesmo tempo, estão super vigilantes e hipersensíveis. A dimensão social david a humana, a interacção com conhecidos e desconhecidos, é um aspecto importante do dia-a-dia, que proporciona uma sensação de pertença e de segurança. O facto de hoje em dia existir menos interacção social, menos conversas face a face, menos toque, mais distanciamento, em geral menos prática de relacionamento, pode estar a fazer de todos nós algo desajeitados socialmente. O relacionamento mais completo e recompensador, e vidente mente, éa conversa face a face não mediada. Mas, o contacto telefónico, a conversa em videochamada ou videoconferência, as mensagens de telemóvel ou o email, que já eram importantes antes da pandemia para manter a interacção social, são hoje em dia ainda mais relevantes. Por isso, agende tempos para interagir, mantenha os contactos, não se isole. E, já sabe, quando está mais ansioso, menos fluido nas conversas, ou quando os outros lhe parecem mais desajeitados ou nervosos, dê um desconto, tenha paciência. Andamos todos com pouca prática.
“As pessoas podem estar a ficar mais desajeitadas a falar umas com as outras