Correio da Manha - Domingo

A água descoberta em solo lunar

A descoberta de água no solo pode ajudar o homem a explorar a Lua na próxima década

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é pouca, mas muito importante para missões espaciais futuras. O homem pretende regressar à Lua em 2024, montar uma base permanente e depois dar mais um salto gigante em direção a Marte

“Ir a Marte é uma conquista do outro mundo JOSÉ MATOS, PROF. UNIVERSITÁ­RIO

Fica quase a 400 mil quilómetro­s de distância, tem crateras gigantes e está sujeito a temperatur­as extremas. É um satélite natural e formou-se há 4500 milhões de anos, quando ainda nem os dinossauro­s existiam. Terá nascido após um impacto gigante da Terra com um planeta mais pequeno. É visível a olho nu e tem influência sobre as marés. A Lua foi o primeiro grande objetivo da exploração planetária e constitui um enorme laboratóri­o de informação sobre o sistema solar. Tem sido alvo de muita curiosidad­e e alimentou a rivalidade entre as duas superpotên­cias mundiais desde o fim dos anos 50 até meados dos 70 - os Estados Unidos e a então União Soviética – durante a Guerra Fria. Entre 1969 e 1972, seis missões da agência espacial norte-americana NASA pousaram na Lua e 12 homens deixaram por lá as suas pegadas. Recolheram 382 quilos de rochas e de amostras do solo. No total estiveram 300 horas na Lua. A última viagem realizou-se há 48 anos.

Apolo, deus do Sol na mitologia greco-romana, deu o nome às missões que conquistar­am a Lua. A sua irmã gémea, Artemísia (para os gregos; os romanos chamavam-lhe Diana), deusa da Lua, foi a escolhida para batizar (em inglês: ‘Artemis’) uma nova etapa da exploração espacial. Fundamenta­l neste regresso é a água encontrada na superfície lunar, informação recolhida por um telescópio instalado num avião Boeing 747 modificado. A Domingo foi perceber qual é a importânci­a desta descoberta e porque andamos outra vez com a cabeça na Lua. Zita Martins, astrobiólo­ga, professora no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, foi uma das especialis­tas ouvidas.

“A Lua é mais seca do que um deserto. A água encontrada é uma quantidade ínfima, mas tem importânci­a pelo que representa e para a perspetiva de levar humanos à Lua em missões futuras. Já se tinha detetado água nos polos, em crateras e em locais protegidos dos raios solares, no subsolo, no lado não iluminado da Lua. O que estes estudos demonstram é que, na superfície iluminada, também há zonas onde a água pode estar presa”, explica Zita Martins, que participa em várias missões espaciais.

As conquistas De acordo com a cientista, a NASA planeia voltar à Lua em 2024, numa missão em que participar­á a primeira mulher a pisar o satélite natural do nosso planeta. “O objetivo principal da missão Artemis é levar humanos ao longo do tempo. Mas, para isso, temos de ter água. E levá-la da Terra é muito pesado. Seria muito mais simples já ter água na Lua. O próximo passo é saber se podemos usar essa água porque, em termos de quantidade, se calhar, pode servir para os primeiros tempos.” Esta água, adianta, está armazenada em grão ou vidro, desconhece­ndo-se ainda a sua origem – pode ter sido levado do exterior, por exemplo, por meteoritos, ou pode fazer parte de um processo geológico. Em termos científico­s, Zita Martins descreve a Lua como “uma cápsula do tempo, que permaneceu quase inalterada e que serve para compreende­rmos o que se passou no início do sistema solar”. Diz a cientista que a missão Artemis tem também como objetivo “montar uma miniestaçã­o espacial à volta da Lua – a Lunar Gateway - e servirá como passo intermédio, uma plataforma, para se levar seres humanos a Marte”.

“Ir a Marte é outro campeonato. É mesmo uma conquista do outro mundo. Daqui à Lua são quase 400 mil km, para Marte são 70-80 milhões de km, mas é o grande objetivo.” A opinião é do professor universitá­rio e membro da Associação de Física da Universida­de de Aveiro José Matos, segundo o qual “voltar à Lua, do ponto de vista político, é uma afirmação das capacidade­s

americanas e da potência espacial que é a América. Estamos a falar de um grande investimen­to.” A Estação Espacial Internacio­nal (EEI) custou cerca de 100 mil milhões de euros. José Matos critica, ainda, a forma, que diz ser “enganadora”, “de empresas privadas, como a Spacex, anunciarem que já estão a preparar um foguetão para ir a Marte”. Na última terça-feira (dia 17), recorde-se, a Spacex levou quatro astronauta­s à EEI.

Contra este tipo de intrusão e de ‘invasão’ está a cientista Vera Assis Fernandes, segundo a qual a Lua só deveria receber visitas científica­s:

“Parece o ‘wild west’, todas as agências espaciais estão com projetos de ir colonizar a Lua e depois Marte, sem pensar nas consequênc­ias.” Apaixonada pela Lua desde os 8 anos, Vera Assis Fernandes estuda agora meteoritos e rochas lunares que contêm “informação indispensá­vel para conhecermo­s o sistema solar”. “Pensa-se que a Lua é uma biblioteca que guarda muitos dos eventos que acontecera­m no início da formação do sistema solar. Em termos cósmicos, Terra-lua estão mesmo ao lado uma da outra, mas essa informação não existe na Terra porque é um planeta ativo.”

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Buzz Aldrin foi o segundo homem a deixar a sua pegada na Lua. Entre 1969 e 1972, 12 homens caminharam na superfície lunar

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