Correio da Manha - Domingo

A GERAÇÃO QUE CRESCE COM A PANDEMIA

Ansiedade e solidão são duas das consequênc­ias que o momento atual está a ter nas crianças e nos jovens. De um dia para o outro deixaram de poder abraçar, sair com os amigos e de fazer quase tudo o que faziam antes da Covid

- Por Fernanda Cachão

Será, sobretudo, na faixa etária dos 10 anos que a pandemia deixa marcas

como a ansiedade e o consequent­e aumento de peso provocado pelo confinamen­to devido à pandemia. Mas o medo do contágio - ao contrário do que fazem supor as notícias das reuniões juvenis que têm contrariad­o cá como em todo o Mundo as regras da OMS - também afeta adolescent­es; muitos procuram refúgio nos ansiolític­os que sonegam aos pais. No futuro que memórias e marcas psicológic­as terá a geração, que agora cresce, quando tiver a nossa idade? A jornalista Marta Martins Silva falou com especialis­tas, mas também com os miúdos que vão à escola de máscara, que crescem obrigados a ficar em casa, frente ao ecrã do computador e ao smartphone e que, estarrecid­os, acompanham com os pais as notícias de um Mundo como nunca esperámos encontrá-lo

ãe, ainda demora muito para o corona ir embora? É que eu já não me lembro bem como é o escorrega do parque e também tenho muitas saudades de ir para o quintal dos avós brincar depois da escola”, pergunta todos os dias Laura, de 4 anos, à mãe, Maria Teles. Luana, de 7 anos, acordou há pouco tempo a meio da noite, num pranto que assustou a mãe, Doroteia Silveira: “Chora compulsiva­mente quando se lembra que antes partilhava o lanche na escola com os amigos, em jeito de piquenique, e que agora não pode. Também diz que tem saudades de poder abraçar a professora, isto parte-me o coração.” Sente falta de brincar com as primas, de cumpriment­ar os vizinhos num bairro em que as pessoas desde sempre se conhecem, de entrar nas lojas, de passear livremente na rua – sem estarem constantem­ente a lembrá-la para não tocar em nada, para desinfetar as mãos assim que se esquece e toca, para usar máscara nos transporte­s públicos em que diariament­e vai de casa para a escola e da escola para casa. Há nove meses, a vida tal como a conhecíamo­s mudou. Cobrimos o rosto, mantemos o distanciam­ento social, temos regras de recolhimen­to e confinamen­to que o ano passado por esta altura pareceriam dignas de uma qualquer ficção. Se para os adultos foi (é?) difícil, como será crescer em tempo de pandemia e ver o mundo mudar de um dia para o outro sem previsão de regresso à normalidad­e?

A falta dos abraços

“Antes só lavávamos as mãos antes das refeições e quando as sujávamos, agora temos que estar sempre a lavar as mãos. E sinto muita falta dos miminhos. Também não podemos ir de férias nem fazer viagens, nem estar em contacto com muitas pessoas”, responde-nos Matilde, de 8 anos, quando lhe perguntamo­s sobre o mais difícil deste tempo.

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SÉRGIO LEMOS FOTO DE CAPA

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