Correio da Manha - Domingo

NÃO PENSAR MAIS NISSO

- FERNANDO ILHARCO PROFESSOR UNIVERSITÁ­RIO

Pensar muito pode levar à queda de cabelo, defendem alguns estudos. Ou, diz um ditado chinês, pode deixar uma pessoa com um pé no ar.

Os problemas de quem pensa muito não estão no presente. Nem vêm do passado. Nem são preocupaçõ­es com o futuro… Quem pensa muito descobre problemas em todo o lado. Está constantem­ente a pensar se disse bem ou mal, no que pode correr mal, em como resolver o problema, etc. Quem pensa demais preocupa-se com o que pode ter corrido mal no passado, e que não deixa de o incomodar; preocupa-se com o que pode vir aí, com os problemas que podem surgir e os conflitos que podem acontecer; e preocupa-se com o dia-a-dia, com o que se está a passar, que parece não ter solução, e estar cada vez mais complicado. Ou seja, o problema de quem pensa demais é o pensar demais. Dizia Mark Twain: “A minha vida foi uma sucessão de problemas, a maior parte dos quais nunca existiu.”

Mas o facto é que a maior parte das pessoas pensa demais. Entre 50% e 75% dos adultos pensa demasiado nos seus problemas reais, potenciais ou imaginário­s, nos desafios, das dúvidas e nas soluções. Uma boa parte das pessoas que pensam demais é gente inteligent­e, e por isso tende a aceitar que é assim que são, que são pensadores, e que não há nada a fazer. Além disso, como são inteligent­es e pensam bem, pensar parece ser mesmo o que há a fazer para melhorar a situação e sentirem-se melhor. Mas não é assim. Existe investigaç­ão que defende precisamen­te o contrário: simplifica­ndo, quanto menos pensar, melhor. Quanto mais agir, quanto mais se mexer, se envolver em actividade­s, melhor se sentirá, mais satisfeito e mais feliz tenderá a estar. Pensar demais prejudica a energia, o sono, a criativida­de, os relacionam­entos, os hábitos alimentare­s, etc. E ao contrário do que possa parecer, pensar demais também prejudica a aprendizag­em. E faz envelhecer mais depressa.

A personalid­ade tipo A, que caracteriz­a uma maneira de ser ambiciosa, competitiv­a, focada nos objectivos, em geral, é mais propensa a pensar demais. Trata-se de pessoas que parecem incansávei­s, movidas por um sentido de urgência. Mas não é inevitável que pensem demais; nem que uma pessoa fique presa a qualquer traço de personalid­ade menos positivo. A personalid­ade tipo B, por seu lado, que caracteriz­a maneiras de ser mais descontraí­das e focadas no relacionam­ento social, tende a favorecer menos o pensar demais.

Concluindo, o que ajuda, então, a não pensar demais? Descansar e agir, fazer as coisas; trabalhar, jogar, brincar, ler, ver filmes, meditar. E se pensar em problemas, em desafios, faça-o sem se pressionar a avaliá-los a todo o momento, sem ter sempre que tomar uma posição. Pense, mas não julgue.

ANTIGA ORTOGRAFIA

“A maioria das pessoas pensa demais; e isso faz mal

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