Correio da Manha - Domingo

“COM BOM SENSO, A MINISTRA APRENDIA A OUVIR OS MÉDICOS”

Bastonário da Ordem dos Médicos diz que temos assistido a uma gestão essencialm­ente política da pandemia

- Por DANIELA POLÓNIA Pivô CMTV

“As medidas têm aparecido tarde e a conta-gotas

JÁ HÁ MÉDICOS A TEREM DE ESCOLHER QUE DOENTES TRATAR?

O SNS já não chegava em tempo útil a todos, basta ver as listas de espera que já tínhamos e que deixavam muitos doentes com resposta fora do prazo recomendad­o. A pressão da pandemia veio pôr a nu mais fragilidad­es. Os hospitais têm dado resposta, nomeadamen­te nos cuidados intensivos, mas porque muita da outra atividade não Covid-19 foi suspensa.

SE O NÚMERO DE CASOS DE COVID-19 NÃO FOR BAIXANDO NAS PRÓXIMAS SEMANAS, QUE CENÁRIO SE PREVÊ PARA OS HOSPITAIS?

Muitos hospitais já estão no limite e a resposta só é mantida pelo grande esforço dos médicos e dos outros profission­ais de saúde. Mas não é possível estender isto muito mais e se a pandemia não for travada podemos ter de tomar decisões críticas complexas.

COMO CLASSIFICA AS MEDIDAS TOMADAS PARA ESTA SEGUNDA VAGA?

As medidas têm aparecido mais tarde do que o desejável, e também a conta-gotas, o que dificulta muito o combate à pandemia e a comunicaçã­o com os cidadãos.

DOENTES NÃO COVID ESTÃO A FICAR `ESQUECIDOS'?

Infelizmen­te temos assistido a uma gestão essencialm­ente política da pandemia, com impacto muito negativo nos outros doentes. Temos muitas consultas, cirurgias e exames a ficarem para trás. Os números do excesso de mortalidad­e e morbilidad­e são assustador­es.

ACREDITA QUE PORTUGAL TENHA 16 MILHÕES DE DOSES DE VACINAS CONTRA A COVID-19 NO PRÓXIMO ANO, COMO DISSE

ANTÓNIO COSTA?

É prematuro e desadequad­o depositarm­os todas as expectativ­as na vacina, mas nos bastidores é crítico que o Governo tenha todos os cenários preparados. Para já, é urgente motivar os cidadãos a cumprirem as regras de proteção individual e coletiva, e garantir a vacina da gripe sazonal às pessoas que dela necessitam.

COMO BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS, ACHA QUE O GOVERNO

LHE TEM DADO OUVIDOS?

A ministra da Saúde nunca reuniu com a Ordem dos Médicos na pandemia. Tal como na relação entre pais e filhos, muitas vezes só com o tempo é que os mais novos percebem que deviam ter ouvido os mais velhos. Com uma boa dose de sabedoria, humildade e bom senso, a ministra aprendia a ouvir os médicos e a fazer melhor o seu trabalho.

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