“COM BOM SENSO, A MINISTRA APRENDIA A OUVIR OS MÉDICOS”
Bastonário da Ordem dos Médicos diz que temos assistido a uma gestão essencialmente política da pandemia
“As medidas têm aparecido tarde e a conta-gotas
JÁ HÁ MÉDICOS A TEREM DE ESCOLHER QUE DOENTES TRATAR?
O SNS já não chegava em tempo útil a todos, basta ver as listas de espera que já tínhamos e que deixavam muitos doentes com resposta fora do prazo recomendado. A pressão da pandemia veio pôr a nu mais fragilidades. Os hospitais têm dado resposta, nomeadamente nos cuidados intensivos, mas porque muita da outra atividade não Covid-19 foi suspensa.
SE O NÚMERO DE CASOS DE COVID-19 NÃO FOR BAIXANDO NAS PRÓXIMAS SEMANAS, QUE CENÁRIO SE PREVÊ PARA OS HOSPITAIS?
Muitos hospitais já estão no limite e a resposta só é mantida pelo grande esforço dos médicos e dos outros profissionais de saúde. Mas não é possível estender isto muito mais e se a pandemia não for travada podemos ter de tomar decisões críticas complexas.
COMO CLASSIFICA AS MEDIDAS TOMADAS PARA ESTA SEGUNDA VAGA?
As medidas têm aparecido mais tarde do que o desejável, e também a conta-gotas, o que dificulta muito o combate à pandemia e a comunicação com os cidadãos.
DOENTES NÃO COVID ESTÃO A FICAR `ESQUECIDOS'?
Infelizmente temos assistido a uma gestão essencialmente política da pandemia, com impacto muito negativo nos outros doentes. Temos muitas consultas, cirurgias e exames a ficarem para trás. Os números do excesso de mortalidade e morbilidade são assustadores.
ACREDITA QUE PORTUGAL TENHA 16 MILHÕES DE DOSES DE VACINAS CONTRA A COVID-19 NO PRÓXIMO ANO, COMO DISSE
ANTÓNIO COSTA?
É prematuro e desadequado depositarmos todas as expectativas na vacina, mas nos bastidores é crítico que o Governo tenha todos os cenários preparados. Para já, é urgente motivar os cidadãos a cumprirem as regras de proteção individual e coletiva, e garantir a vacina da gripe sazonal às pessoas que dela necessitam.
COMO BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS, ACHA QUE O GOVERNO
LHE TEM DADO OUVIDOS?
A ministra da Saúde nunca reuniu com a Ordem dos Médicos na pandemia. Tal como na relação entre pais e filhos, muitas vezes só com o tempo é que os mais novos percebem que deviam ter ouvido os mais velhos. Com uma boa dose de sabedoria, humildade e bom senso, a ministra aprendia a ouvir os médicos e a fazer melhor o seu trabalho.