BENJAMIN PÉRET: EROTISMO SURREALISTA
O grito iconoclasta de um libertino desbocado, lascivo e sacrílego
“Revela uma meticulosa coreografia do deboche ao estilo sadiano
Victor Maurice Paul Benjamin Péret (1899-1959) foi um poeta surrealista francês e um
ativista revolucionário. Ganhou um lugar na história da literatura erótica graças a ‘Os Tomates Enlatados’ (ed. Antígona), cuja escrita, aparentemente caótica, revela uma meticulosa coreografia do deboche, na esteira do mais genuíno libertinismo sadiano, utilizando o método onírico tão ao gosto dos surrealistas. Convém prevenir que a linguagem é obscena e sacrílega - uma das diversões favoritas de Péret era insultar padres na rua. Na recente edição da Antígona merece destaque a qualidade da tradução do jornalista Torcato Sepúlveda (1951-2008), que superou as dificuldades dos trocadilhos e jogos de palavras do original, assinalando devidamente as referências eruditas.
O livro, escrito em 1928, tinha o título original de ‘Os Colhões Enraivecidos’ e destinava-se a formar uma trilogia erótica surrealista, juntamente com a ‘História do Olho’, de Georges Bataille, e ‘A Cona de Irene’, de Louis Aragon. A polícia apreendeu a obra na gráfica, que só veio a sair em 1954 com o título atual e assinado com o pseudónimo
Satyremont. Continuou proibido até 1975. Péret participou no filme ‘Le Coeur à Barbe’ (O coração barbudo), realizado por Tristan Tzara em 1930. Foi homenageado em 2015 com um documentário realizado por Rémy Ricordeau que retoma um título seu e também lhe serviu de epitáfio: ‘Desse Pão Não Como – Benjamin Péret, poeta, isto é, revolucionário.’
Do livro `Os Tomates Enlatados', trad.Tor cato Sepúl veda, ed. Antígona
“(…) De súbito, um grande grito rasgou o ar, e as quatro portas do salão abriram-se ao mesmo tempo. Quatro mulheres, ostentando por única roupa simples ‘godemichés’ introduzidos, precipitaram-se no compartimento, enquanto por detrás da tapeçaria surgiam as mais formosas pernas do mundo e gemidos capazes de, por si sós, transformarem a mica em óculos de automobilista. – O senhor visconde chamou? – perguntaram à uma as quatro damas.
– Sim, minhas lindas, venho-me.
E os gritos do visconde ecoaram mais sonoros e agudos do que nunca, a ponto de o espelho rachar pelo meio e a todo o comprimento, desenhando uma vasta cona por onde se derramava uma cascata seminal tão perfumada que não houve quem não sentisse inchar dentro de si um milhar de piças ou de mamas. (…)”
“Poema gravado numa piça
Ela vendia nabos e grelos grelos colhidos no próprio rego e nabos que a tinham punheteado.
Era uma bela rapariga cujas nalgas surgiam em todas as esquinas e as esquinas eram pequenas demais para umas nalgas assim que adejavam ao longe como uma bandeira em busca do respectivo pau.
Cantava dia e noite tenho uma gaita no meu calção tenho uma gaita e tu não não
Foda foda quem gostar
Serei sempre eu a gozar.”
“(…) E as bundas sucedem-se. Há-as rosadas e frescas como a aurora, duras como granito batido pela maré-cheia, gordas como uma raposa que tivesse devorado por inteiro a criação duma capoeira (...).
Porque foram os patos pr’àqui chamados? (...) Come os teus patos
Enraba a tua porteira e sodomiza-lhe a filha também
Elas dão ao dedo dia e noite
Sempre será uma distracção
(…) Ah! as rapariguinhas arregaçando as saias para se punhetearem nas moitas ou nos museus atrás dos Apolos em mármore enquanto a mãe compara a picha da estátua à do marido e suspira
Ah! se o meu marido fosse assim (…)”
“(…) Furiosa, Sixtynine levantou-se de supetão.
– Miseráveis! Acabo de parir um deus e vocês nem para mim olham! Só esses destroços vos interessam. Tenho ou não o direito a ser fodida por vocês todos como preito de tal façanha? (…) Konal, tu cuja piça se assemelha a uma colher de café, serás o primeiro. (…) Quando tivermos gozado bem os dois, calhará a vez a Testiculino, depois e por ordem, a Piçalonga, Nalgrelo, Virgineta, etc. Ninguém será esquecido, franquearei a cona a toda a gente, pois o meu clítoris nunca amolece. Hoje, a entrada é livre.”
“As esquinas eram pequenas demais para umas nalgas assim