UMA PROFISSÃO DE FUTURO
Pelahoradejantar,joaninhasegueoexemplo dospaisecola-seàtvparasaberasúltimasda pandemia. Miúda curiosa (anda no 7º ano), escuta as minuciosas explicações da mãe, Mariana, sobre o que é a virologia e o tal bichinho perigoso que a obriga a usar máscara. Poucos sabem quantos portugueses morrem por dia devido a cancroouavc,mastodossabemquantosmorrem diariamente com Covid-19. Nos últimos meses,milhõesdeportuguesestornaram-sevirologistas amadores, muitos até dando-se ares de entendidos profissionais. Tudo por conta do bombardeamento informativo sobre o tal coronavírus com nome de planeta longínquo, um tal Sars-cov-2.empoucosmeses,omundomudou e quase parou. E isso mete medo. Para já, o grosso dos Media aponta para o milagre das vacinas que os grandes laboratórios conseguiram em tempo recorde. Uma catrefa de vacinas, descritas por inúmeros palavrões científicos (ácido nucleico, vector viral e por aí fora). São gráficosequadrosadarcomumpau!pauloportas, honra lhe seja feita, é o pedagogo televisivo com veia de virologista que ostenta o discurso mais descomplicado. Espantoso é que, em menosdeumano,aindaqueàcustademilhões,vários Estados e os tubarões dos medicamentos tenham proporcionado aos cientistas/virologistas a meritória descoberta das vacinas. Cheira a farto negócio, mas os sistemas políticos e económicos vigentes são mesmo assim!
Nestes tempos da Net a loucas velocidades, já todos esqueceram os efeitos devastadores da gripe espanhola, da varíola, da poliomielite ou da raiva, por exemplo, que as vacinas debelaram. E poucos se lembram que ainda não se descobriu vacina para doenças altamente mortíferas como a malária ou a sida. No Verão de 1983, há 37 anos, um embarcadiço português de origem cabo-verdiana morria num hospital de Lisboa, diagnosticado com uma síndrome que começava a dar que falar: sida. A informação foi dada pela ilustre virologista Laura Ayres, a voz e a figura da luta contra a sida. Do nome do homem não reza a história (andara embarcado vários meses), mas o seu caso fica para a história da virologia portuguesa. É o primeiro caso confirmado de morte de um português com SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida), provocada pelo vírus VIH. (Ainda hoje, muita gente confunde o VIH com a sida. Poucos saberão que a sida é “apenas” a condição que pode decorrer da infecção com o tal vírus. Pode ter-se uma infecção por VIH sem adquirir sida, e muitas pessoas com VIH vivem durante anos sem desenvolver sida). 37 anos depois, ainda não há vacina para a sida, menos ainda para a malária. Joaninha não sabe o que seja sida ou malária, porque ninguém lhe explicou. Mas, escutados os especialistas na TV, sabe montes de coisas sobre a Covid e, por isso, já decidiu o que vai ser quando for grande. “Vou ser virologista!” A mãe sorri. “Força! É uma profissão de futuro!”
Milhões de portugueses tornaram-se virologistas amadores