ADELAIDE CARRARO: “A ESCRITORA MAIS PROIBIDA DO BRASIL”
Erotismo marca os livros-choque de autora ‘maldita’
“A censura considerava a sua obra ‘pornográfica e ofensiva à moral’
Adelaide Carraro (1939-1992) foi uma escritora brasileira que cultivou a imagem de
`autora maldita' graças a mais de quatro dezenas de ‘livros-choque’ sobre os podres (‘Podridão’ é o título de um deles) da sociedade brasileira no tempo da ditadura militar. A descida aos infernos da miséria, do crime ou da prostituição são acompanhados pela denúncia da ‘elite’. O erotismo das suas descrições surge como uma ‘vingança social’: em ‘Submundo da Sociedade’, o segurança negro é o único homem capaz de satisfazer sexualmente a patroa; em ‘A Vingança do Metalúrgico’, o título fala por si. Os livros de Carraro abundam em erros ortográficos e gramaticais, mas o facto de ter sido uma das mais censuradas (mais do que qualquer autor político) ajudou à sua popularidade. Considerada “pornográfica e ofensiva à moral” pela censura do regime, vendeu mais de dois milhões de exemplares. Quando o filme ‘Elite Devassa’ (baseado no livro ‘Fogo’) foi lançado em 1984, o nome em letras maiores no cartaz não foi o do realizador nem dos protagonistas, mas sim o dela, acompanhado do ‘slogan’: “Pela primeira vez no cinema a escritora mais proibida no Brasil”. Apresentava-se com a frase: “Sou Adelaide Carraro, a escritora que fala a verdade.” O livro que a lançou para a ribalta, ‘Eu e o Governador’ (1967), narra a sua alegada relação amorosa com o governador do estado de São Paulo Jânio Quadros, futuro presidente do Brasil. Este jurou até morrer: “Eu nem conheço essa mulher!”
Do livro `Eu e o Governador', ed. Exposição do Livro
“— Tire! Dispa-se! — gritou, humedecendo os lábios como um tarado. Fiquei apenas de calcinha e soutien. Meus olhos estavam cobertos de lágrimas, que me escorriam pelas faces e gotejavam sobre meus seios.
—Tudo! Tudo! Tudo! Eu disse tudo! Não me ouviu?
O homem parecia estar atacado de alguma forma de insânia. Estava totalmente fora de si. No seu olhar havia uma expressão de loucura, quando começou a aproximar-se lentamente de mim. (...) Alcançou-me e puxou-me violentamente, arrastando-me até o quarto, onde atirou-me violentamente sobre a cama (…)”
Do livro `Submundo da Sociedade', ed. Global
“(...) Cris precisava de um homem. Queria, desejava loucamente, ardentemente, estar debaixo de um homem. Queria senti-lo entrar em suas entranhas freneticamente. (…) Cris sentindo aquela coisa grossa e dura empurrar as suas carnes abriu bem as pernas, levantando-as no ar para que ele entrasse inteiro. Zé entrou, e quando se sentiu engolido pela carne em fogo foi saindo devagar, devagar para depois voltar em estocadas fortes desordenadas, furando, furando, cada vez mais violento quando ouvia os gemidos lascivos da fêmea espremida debaixo dele, implorar para que não gozasse.
E Zé não para, não cansa. Estoca, estoca remexendo o corpo para todos os lados. E dizendo com voz meiga, grossa e baixinha bem dentro do ouvido da patroa.
— Não vou gozar. Fique descansada. Só gozo na hora que a senhora mandar. — Quero gozar com você. Me beije. Zé esqueceu que era Zé. Sentiu-se forte, macho, potente e apertando a patroa nos braços deixou-se ficar lá dentro virando o pénis, machucando, ferindo, sangrando, rachando, as carnes de Cris, com seu membro enorme e todo poderoso e Cris, então gritou.
— Goze Zé. E as carnes tremeram se sacudiram, tremularam, gritaram e se esticaram ao mesmo tempo e ficaram paradas, quietas, húmidas (…). Cris puxou o casaco, sentou-se em cima dele e disse, sorrindo: — Acabámos juntos as duas vezes. (…) — Zé?
— Sim senhora.
— Você ouviu o que eu disse?
— Ouvi sim senhora.
— Então. Você não ficou contente?
— De quê?
— De termos gozado juntos...
— Mas existe, quem não, n ã o . . . Goze juntos?
— Claro bobo. Cris ria, à toa — Tem gente que passa a vida toda tentando e nem consegue. O ar do rosto que se voltou para ela estava coberto de ingenuidade.
— Eu não sabia. (...)
Banhado de suor saiu de dentro e sem desgrudar o seu corpo do dela foi escorregando e beijando o pescoço, os seios, o ventre e abrindo-lhe de um arrancão as pernas enfiou sua língua na maciez das carnes. Lambia, chupava, mordia, fazendo a patroa se retorcer em fogo vendo um milhão de discos luminosos que a fazia desmaiar. Aí todas as noites Cristina queria assim. (…)”
“Fique descansada. Só gozo na hora que a senhora mandar