COVILHÃ A ARTE PODE (MESMO) MUDAR UMA CIDADE
Há uma Covilhã antes e depois do Wool, festival de arte urbana que, desde 2011, tem vindo a dar uma nova vida à zona antiga da cidade.
Os habitantes dos grandes centros estão há muito acostumados a que as paredes devolutas se transformem em obras de arte, mas a realidade é outra quando se trata de uma cidade de província. Pelo menos até 2011, ano em que o Wool – Festival de Arte Urbana da Covilhã levou até à Beira Interior alguns dos melhores artistas portugueses e internacionais, mudando por completo a face da cidade. Sobretudo na até aí envelhecida zona histórica – na parte alta, já a caminho da serra da Estrela. Um conjunto de trabalhos que surpreende não só pela quantidade (cerca de 25), mas também pela qualidade e dimensão. Olhos de Coruja, do lisboeta Bordalo II, que criou uma coruja serrana gigante a partir de pneus de trator, pedaços de metal e lixo urbano, é apenas um dos exemplos. Em 2014 foi considerada uma das melhores 25 «paredes» do mundo. Btoy, natural de Barcelona, criou um pastor em formato XL, já a dupla portuguesa Mar & Ram grafitou um pastor surrealista com uma ovelha (de três cabeças) no lugar da... cabeça. Está ao lado (e em diálogo) com a bonita Igreja de Santa Maria, revestida a azulejos azuis e brancos.
As referências à pastorícia e aos lanifícios não surgem por acaso, afinal este foi durante muitos anos o ganhapão da terra. O próprio nome do festival remete para essa realidade – se wall significa parede, wool quer dizer lã – sendo por isso natural que a população não tenha oferecido grande resistência. «Quem reagiu melhor até foram os mais velhos», conta Pedro Rodrigues, arquiteto e um dos responsáveis pela organização. «Sentiram-se representados.» Depois da edição de 2011 houve nova edição em 2014, um evento mais pequeno em 2015, devido a falta de apoios, e tudo indica que regresse em junho de 2018. A alma artística, essa, veio para ficar.