Evasões

ELOGIO À CALÇADA PORTUGUESA

- SUL POR TIAGO GUILHERME

É talvez uma das artes que mais identifica­m o nosso país: a calçada portuguesa. É mesmo uma das nossas imagens de marca, espalhada pelo mundo, sobretudo nas antigas colónias, do Brasil a Macau, de Angola a Timor. Devemos, por isso, preservá-la. Poucos sabem que o Rossio foi o primeiro local do mundo a receber esta arte numa grande área (já tinha sido usada pouco antes na encosta do castelo), uma calçada tantas vezes maltratada com feirinhas, desfiles de moda e carrinhas em cima. Se há local que nunca deveria ter nada em cima é o Rossio, já basta as pedras estarem constantem­ente sujas junto às fontes, onde não se distinguem as pedras brancas das pretas.

Infelizmen­te, em Lisboa, muitas ruas e avenidas têm vindo a perder a calçada portuguesa para ganharem uma mistura de cimento e outros materiais, que tornam o piso impermeáve­l, que rapidament­e agarra todo o tipo de sujidade e que fica negro. É uma péssima solução, que tem vindo a descaracte­rizar o espaço público da capital, mesmo nas zonas centrais (a Rua Alexandre Herculano é apenas um exemplo) e a tornar o chão que pisamos em algo feio e pouco higiénico. É preciso recordar que a tão elogiada luz de Lisboa se deve a vários fatores, como as várias horas de sol da capital por ano, do reflexo de um rio muito largo como o Tejo e também do branco da pedra calcária que compõe a calçada portuguesa. Diminuir a área de calçada portuguesa em Lisboa é, de alguma forma, atacar a alma e a identidade desta cidade. Pelo menos nas zonas centrais (não só as históricas) que se mantenha a calçada portuguesa.

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