Evasões

GUADIANA ACIMA

UMA EXPEDIÇÃO À VELA EM SEIS DIAS E SETE NOITES

- TEXTO DE PETRAL ALVES FOTOGRAFIA DE CONSTANTIN­O LEITE

Há 55 milhas para velejar do extremo leste algarvio até terras alentejana­s, parando em aldeias e vilas raianas que têm no grande rio do sul o seu mais bonito espelho. De Olhão ao Pomarão, navegar é preciso.

Mesmo quem prefere ter os pés bem assentes no chão há de guardar, mais ou menos camuflado, o ímpeto de navegador. Talvez tenha que ver com o património genético português esta vontade de descoberta, de aventura, de ir além «enquanto houver ventos e mar», como canta Jorge Palma. Quando se entra no veleiro Beneteau

Oceanis 40, na marina de Olhão, para dar início à expedição, o ADN acorda: até os que gostam de terra firme se sentem confiantes, dispostos a navegar até à Índia e a enfrentar os elementos. Porém, o percurso proposto para esta viagem é bem mais curto, tranquilo e contemplat­ivo.

A partir de Vila Real de Santo António, o veleiro segue pelas águas calmas do grande rio do sul. Ainda assim, está-se exposto ao arbítrio da natureza e ao facto de se estar num meio – o aquático – que segurament­e não foi desenhado a pensar nos humanos. E por isso desafia tanto quanto deslumbra. Há que ter em conta as marés, os ventos, a profundida­de do rio. Há que saber lidar com a imprevisib­ilidade consequent­e. O itinerário pode mudar, os horários podem mudar, mas a viagem continua a ter alma de expedição.

Ricardo Barradas, o skipper que lançou e conduz esta aventura, vai mudando a direção do leme e do programa consoante as exigências da natureza. Fá-lo com tranquilid­ade e boa disposição, provavelme­nte por já ter percebido que não vale a pena remar contra a maré. Antes de se dedicar ao mar e criar a escola náutica Algarve Cruising Center, que além de cursos oferece expedições à vela, Ricardo foi professor. As suas apetências pedagógica­s são aplicadas durante a expedição, já que todos são convidados a participar. Por «todos» leia-se quatro pessoas, em duas cabinas duplas, a partilhar os espaços comuns. Quem quiser dar o corpo ao manifesto e ajudar a ca- çar a adriça (puxar o cabo que iça as velas); a colocar as defensas (ou seja, as boias reforçadas que se colocam ao longo do casco para o proteger); ou mesmo a aproar ao vento (que é como quem diz, pôr a proa na linha do vento, manobrando a roda do leme) é muito bemvindo, ainda que seja novato nas lides náuticas e nunca tenha feito daqueles nós cheios de voltas. Ricardo vai dando instruções num tom calmo e assertivo, o que faz que aquelas manobras pareçam simples.

E se a bordo há todo um novo mundo a conhecer, em terra, quando a embarcação atraca no cais, exploram-se a cozinha, a história e a cultura de lugares perdidos no tempo.

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40, da Algarve Cruising Center, há duas cabinas confortáve­is, cozinha equipada e sala de estar. Doze metros de casa flutuante.
A bordo do veleiro Beneteau Oceanis 40, da Algarve Cruising Center, há duas cabinas confortáve­is, cozinha equipada e sala de estar. Doze metros de casa flutuante.

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