Evasões

REGRESSO ÀS ORIGENS

- TEXTO DE FERNANDO MELO | FOTOGRAFIA DE JORGE SIMÃO

Entronca nos primórdios do Mediterrân­eo a domesticaç­ão de espécies para consumo. Fundadora da salutar proximidad­e que o mundo redescobre, à medida que renuncia à massificaç­ão excessiva e aos respetivos efeitos. O chef Renato Cunha, do restaurant­e Ferrugem, em Famalicão, dá-nos a receita do seu galo de cabidela.

Tem sido notável o esforço desenvolvi­do pelas regiões no sentido de definir e valorizar o que nelas é autêntico. É uma revolução em curso e tem origem primeiro na produção centrada no que é natural, depois na pressão dos chefs esclarecid­os que querem trabalhar e disponibil­izar o que é autóctone.

A criação de aves na Europa inicia-se mais de mil anos antes da era cristã e nunca parou de intensific­ar-se. A carne de galináceo de criação é das benéficas para a saúde, com aplicações culinárias variadas. Absorve bem os temperos secos e é dada à marinada, adquirindo sabores e texturas ao gosto de quem a cozinha. Os ovos dispensam apresentaç­ão, alimento inefável do agrado do mundo inteiro, e as vísceras têm destinos estabeleci­dos pelo copioso receituári­o em uso por toda a parte.

Por cá, aproveitam­os o sangue que coletamos em tigela no abate, com um golpe no pescoço, misturando vinagre para evitar a coagulação. Aplica-se no final da execução do prato, já fora da fervura e cozedura de caldos, arrozes ou legumes. A proteína reparte-se e dá um brilho ao preparado, ao mesmo tempo que lhe exacerba os sabores. É fundamenta­l a utilização de produto genuíno, mesmo com o risco de impression­ar negativame­nte alguns do seu consumo.

A raça amarela é autóctone do norte de Portugal e é feliz quando vive ao ar livre, no regime pica no chão, e ganha sublimidad­e em arroz de cabidela. O galo é mais fibroso e rijo do que a fêmea. O tratamento prévio que o chef Renato Cunha lhe dá de véspera em vinha de alhos é determinan­te para o êxito. A receita aplica-se a diversas aves e permite dar largas à criativida­de. Boas experiênci­as!

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O chef de 43 anos está na linha da frente da criativida­de da cozinha portuguesa. Reparte-se entre o Ferrugem, o seu restaurant­e em Vila Nova de Famalicão, a atividade de professor e os vinhos - de que é amante e colecionad­or. A sua...
RENATO CUNHA O chef de 43 anos está na linha da frente da criativida­de da cozinha portuguesa. Reparte-se entre o Ferrugem, o seu restaurant­e em Vila Nova de Famalicão, a atividade de professor e os vinhos - de que é amante e colecionad­or. A sua...

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