À MESA DE UMA CASA PORTUENSE
Do mar chega o peixe e o marisco fresco. Da cidade chega a tradição de bem receber. E na cozinha está um autodidata, com um bolo de chocolate que «é um pecado».
Quem vê de fora tem a impressão de estar a olhar para um cenário de um filme ou de uma peça de teatro. Quem entra vê-se envolvido em ambiente idílico e intimista, a meia-luz proveniente de candeeiros e castiçais com velas. As peças pertencem a André Lima, cenógrafo com paixão pela cozinha. Associado ao projeto está Eurico Cardoso Rocha, que ali em frente comanda o Pipa Velha, um dos bares mais antigos da cidade.
Desta parceria nasceu o Idiota, que se quer destacar pelo «serviço honesto e distinto». Entre as 10h30 e as 16h30 há brunch, «todo ele biológico», nota André. À noite, o espaço transforma-se no Idiota – Casa Portuense, com uma carta dedicada ao mar, sem que faltem pratos com ingredientes da terra e, acima de tudo, «o bem receber típico do Porto, que eu sou tripeiro», diz André com orgulho.
A arte da cozinha aprendeu-a com a mãe e «por acidente». O segredo é «muito amor, trabalho e pesquisa». Daí resultam pratos típicos com um toque pessoal, como a torta de bacalhau recheada com gambas, o ceviche ou a perdiz de escabeche. E as batatas idiotas, assadas com alho e servidas em maionese de salsa, são um acompanhamento a pedir.
Ao passar os olhos pela ementa, confortavelmente sentado numa poltrona, há que reservar um espacinho para a sobremesa, seja a tarte de maracujá ou framboesa, o pudim abade de Priscos ou o bolo de chocolate, servido com redução de laranja do Algarve e mirtilos, que «é um pecado», assume André. Com isso em mente, para começar, nada melhor do que uma
sopa de peixe que aconchega o estômago. À primeira colher parece distinguir-se o sabor característico do miso, mas André esclarece: «É uma calda de marisco que eu faço aqui.» A sala tem capacidade para 24 pessoas e, ao centro, uma antiga porta do edifício onde em tempos funcionou o antigo tribunal do Porto, ali ao lado, faz agora de mesa.
Quando há boa comida e companhia num lugar acolhedor, falta apenas um copo para levar a conversa noite dentro. O Idiota sugere uma seleção de vinhos de pequenos produtores, como o António Saramago, ou cervejas artesanais Post Scriptum, de Pedro Sousa. Quando a noite acaba esta Casa Portuense fica na memória.