Evasões

LOCOS POR QUEIJOS

- TEXTO DE MARLENE RENDEIRO FOTOGRAFIA DE PAULO SPRANGER/GI

LISBOA A pedido dos visitantes, o estrela Michelin de Alexandre Silva lançou-se numa nova aventura: criar os seus próprios queijos para um momento degustação. Muitos quilómetro­s pelo país e horas no laboratóri­o do Loco traduzem-se na nova experiênci­a, servida antes da sobremesa.

Não é exagero dizer que os queijos são os meninos dos olhos de Ricardo Leite, o sous-chef de Alexandre Silva no Loco. A dedicação leva-o a visitar o restaurant­e estrelado pelo guia vermelho até nos dias de folga e o cuidado sente-se na forma como manuseia alguns dos queijos, criados à mão, e como volta a cobri-los rapidament­e num pano ou em folha de alumínio para evitar a exposição. «Este queijo estilo septmancel francês é uma autêntica bomba. Tenho de ter cuidado com a humidade, não pode ficar muito tempo descoberto», avisa Ricardo, enquanto o retira do carrinho de madeira.

Criado pelo arquiteto habitual do Loco, este novo tabuleiro de serviço com duas rodas acolhe

o novo momento de queijos, que pode ser servido com o menu de 18 passos, o único do restaurant­e Michelin neste momento. Desde a semana passada que é possível provar, entre a pré-sobremesa e a sobremesa, alguns dos dez exemplares criados pela equipa nos últimos seis meses, num serviço que pode incluir ainda a harmonizaç­ão com vinhos.

Quem vir os queijos já prontos a ser cortados com uma faca da época vitoriana, comprada em leilão, dificilmen­te imagina o trabalho por detrás de cada um. A aventura começou no ano passado, depois de uma visita ao Loco do influente crítico gastronómi­co Andrea Petrini, que integra o painel de jurados dos 50 Best Restaurant­s. «Ele pediu um prato de queijos e não havia», explica Ricardo Leite, continuand­o:

«Não faz parte da nossa filosofia termos algo no restaurant­e que não produzimos, portanto resolvemos criar uma experiênci­a de queijo.»

A decisão implicou muitos quilómetro­s na estrada a Alexandre Silva e ao seu sous-chef até chegarem à melhor matéria-prima: leite de animais criados no campo. Para recolher 100 litros de leite – para cerca de 10 queijos – fazem perto de 450 quilómetro­s, divididos entre as Caldas da Rainha e a Azóia, em Sintra, onde estão os dois fornecedor­es. «Os leites têm uma qualidade incrível, dá para ver como são alimentado­s aqueles animais. E com o tempo das flores isto reflete-se também no cheiro do leite e dos queijos», sublinha Ricardo, que aproveita o excedente de soro para produzir o requeijão e o kefir, seguindo a linha do desperdíci­o zero do restaurant­e da Estrela.

Em seis meses, o sous-chef passou do domínio dos queijos frescos às técnicas de introdução de bolores, de várias curas e sabores, como o queijo com feno de camomila e aguardente ou outro, envolvido em folha de figueira ou até coberto de cinza. O restaurant­e Michelin investiu em máquinas para controlar o ph, pesos e uma prensa, tudo para criar verdadeira­s obras de mesa, algumas que ficarão a curar durante um ano, outras já prontas a servir. Em breve, haverá também bries, camemberts e outros que não exigem curas prolongada­s para haver sempre queijo a servir.

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