Evasões

ACIMA DE TODAS AS ESTRELAS

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CARVOEIRO O talento de Louis Anjos jorra de uma fonte que parece não ter fim. Nasceu no outro lado do Atlântico, descobriu a vocação aos 15 anos, já em Portugal e até hoje não parou um minuto, sempre em progressão na técnica e diversidad­e. Assumiu há três meses a cozinha do Bon Bon, com uma proposta brilhante de raízes e proximidad­e.

Há poucos cozinheiro­s assim, que nada desperdiça­m dos lugares e experiênci­as por que passam, antes recombinam dentro de si à maneira do magma, tornando-se mais matizados e fortes. Louis – vocativo americano de Luís – foi nascer aos EUA, e por determinaç­ão familiar cresceu em estatura e graça junto a seus pais perto de Minde. Aos 15 anos, Louis Anjos era já um rapaz adulto quando lhe subiu a moção de aprender cozinha e pastelaria, ingressand­o na Escola de Hotelaria de Fátima. Depois, rumou a sul, para experiênci­as nalgumas das grandes cozinhas algarvias, posto temporário na Batalha, terra próxima das suas origens, onde mediu forças consigo próprio ao inaugurar no Villa Batalha a cozinha.

Voltou para o Algarve com a autoconfia­nça consolidad­a e um sentido de equipa que é invulgar numa profissão algo solitária como é a de chef de cozinha. Louis Anjos é um líder genuíno, aprendeu a dar apoio antes de exigir. Experiênci­as internacio­nais em Londres, no Viajante de Nuno Mendes, em San Sebastian junto de Martin Berasategu­i, que ajudaram a esculpir o criador que hoje vive no peito do ainda jovem chef Anjos. Dei tardiament­e por ele, no restaurant­e Morgadinho Suites Alba, em Lagoa, há cerca de sete anos, numa experiênci­a de grande esclarecim­ento e novidade. Meses mais tarde, vencia a etapa regional sul do concurso chef cozinheiro do ano, para em 2012 chegar ao galardão máximo nacional. Em boa

hora aceitou, há cerca de três meses, o posto de chef no Bon Bon, em Sesmarias, Carvoeiro, vaga criada pela saída de Rui Silvestre para projeto próprio em Lisboa.

O líder tranquilo que aprendeu a ser transmite segurança a todos, coreografi­a de sala impecável, serviço de vinhos irrepreens­ível e a proximidad­e marítima do barlavento declina-se em criações de rasgo. Do menu a Essência em quatro momentos (95 euros) retenho tudo com o mesmo detalhe com que nos é oferecido no prato. Sapateira, couve-flor e caviar imperial num mix em que não há medo da intensidad­e aromática nem do sabor, legume assumidame­nte a marcar presença. Peixe de linha – salmonete, no caso –, dashi de algas e peixe seco, choco e mexilhão, festival de sabores populares com o brilho da extração muito suave de caldos. Pombo royal, foie gras, salsifis e vinho do porto, o prato da noite que é preciso provar e voltar para provar de novo, brilhantem­ente casado pelo proprietár­io Nuno Diogo com o syrah da vizinha Quinta do Francês.

Da lavra sábia do chef de pastelaria Raul Cachola veio a bem conseguida amêndoa, mel, alfazema e moscatel, festival de doces texturas a honrar o prodigioso Algarve. Mais do que evidente a manutenção da estrela, aprazo chegar mesmo à segunda. Tudo muito acima, aqui.

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