PASSADIÇOS DO PAIVA
Na margem esquerda do rio Paiva há um percurso pedestre que bem merece a fama que tem. Caminhar por estes passadiços é conhecer paisagens ricas em beleza e biodiversidade e locais de interesse geológico, enquanto se respira ar puro. «Costumo dizer, a brincar: toca a engarrafar o ar para levar para Porto e Lisboa!» Joana Soares é guia-intérprete da Just Come Countryside & Adventure Tours, um operador turístico especializado no território do Arouca Geopark, reconhecido pela UNESCO como Património Geológico da Humanidade, com 328 quilómetros quadrados.
O comentário de Joana surge a propósito dos líquenes que se encontram ao longo dos Passadiços do Paiva, nas rochas, formando manchas verde-limão, ou em troncos de árvores, parecendo musgo seco, morto, mas passando de castanho a verde quando molhado – e ela tem água pronta a ser borrifada, para o comprovar. A existência de líquenes «significa que é um ar bastante puro e ambiente mediterrânico», esclarece.
O Arouca Geopark tem 41 geossítios classificados e só nos Passadiços do Paiva estão cinco: a Garganta do Paiva, a Cascata das Aguieiras, a Praia Fluvial do Vau, a Gola do Salto e a Falha da Espiunca. Nesta infraestrutura
O AROUCA GEOPARK TEM 41 GEOSSÍTIOS CLASSIFICADOS E NOS PASSADIÇOS DO PAIVA ESTÃO CINCO DELES.
inaugurada, em 2015, na margem esquerda do rio Paiva, e já várias vezes premiada, há ainda nove biospots a informar sobre a biodiversidade em redor. É um percurso pedestre de quase nove quilómetros, entre Areinho e Espiunca, com declives acentuados, escadas e troços de terra batida, que vale a pena fazer pela beleza e pela riqueza natural. O rio corre ao lado e tudo parece mais próximo. As borboletas-limão circulam numa espécie de dança, e os caminhantes cumprimentam-se com um sonoro «bom-dia!».
A caminhada pode começar em qualquer das extremidades dos passadiços de madeira, ou a meio, no Vau, embora o esforço físico seja menor partindo da praia fluvial do Areinho. Tomando essa direção, cedo se chega à Garganta do Paiva. Aqui, o rio, que é «muito importante para as águas bravas e um dos mais selvagens, a nível nacional», atravessa um vale muito estreito, dominado pelo granito de Alvarenga. A Garganta do Paiva começa na Ponte de Alvarenga e acaba no Vau, uma área de recreio e lazer propícia a banhos e piqueniques, com uma ponte suspensa sobre o rio, de passagem opcional. A galeria ripícola, com árvores como amieiros, salgueiros e freixos, torna-se então mais densa, e o vale mais largo.
O passeio é aprazível por si só, e com contexto ganha ainda mais sabor. Ao longo de aproximadamente três horas, tempo que demora a percorrer um sentido, descobre-se que funcionaram ali moinhos de materiais perecíveis (desapareciam com o subir das águas, no tempo frio); ou que as vacas de raça arouquesa, donas de um bom sentido de orientação, andam em liberdade e voltam a casa ao fim do dia. Acima de tudo, sente-se que as gentes de Arouca têm genuíno prazer em mostrar as riquezas da terra aos forasteiros. Sorte a nossa.