Evasões

PEDRO, O INCOMPARÁV­EL

- POR FERNANDO MELO CRÍTICO DE COMIDA E VINHOS

GUIMARÃES É ele próprio já figura fundamenta­l da história da cena restaurati­va nacional que um dia ainda se há de fazer. Coração gigante, talento e conhecimen­to reunidos num homem só que responde pelo título de cozinheiro. Pedro Amaral Nunes feliz no seu reduto de Moreira de Cónegos, a produzir e servir felicidade à mesa no São Gião.

Gostar de cozinhar, ter o prazer de partilhar, ser cliente fervoroso da sua própria cozinha, é uma das muitas formas de resumir o que diariament­e acontece no restaurant­e São Gião, implantado junto ao estádio do Moreirense, em Moreira de Cónegos. A abordagem do chef Pedro Amaral Nunes ao exercício do fogo é de fazer apenas pratos e petiscos do seu gosto pessoal. Tratando-se de um homem da grande tradição nortenha do gosto e gostando de praticamen­te tudo, o cardápio só podia ser extenso e copioso.

A lareira no centro da sala sugere, depois de o conhecermo­s, o coração e calor com que recebe todos os que peregrinam até ao seu santuário. Num elenco que vai variando, há para cima de uma dúzia de entradas em cada dia, uma dezena de pratos de peixe, outros tantos de carne e sobremesas de truz a que todos sucumbem. Nas entradas cresce dentro a vontade de provar o foie gras com figos (16 euros), de que Pedro Nunes é grande artífice, assim como os rins de cabrito grelhados (10 euros), trabalho alquímico que revela um pleno culinário e torna clara a excelência da casa. O tutano com legumes e pão grelhado (12 euros), o peito de pato fumado com molho de amoras (9 euros) e as ostras com molho de chalota e lavagante (12 euros) elevam-nos a uma órbita pouco frequentad­a, para lá do discurso da excelência e do estrito prazer de comer. As sopas são pérolas finas de equilíbrio raro, brilhante o caldo de perdiz (8 euros), única a sopa de peixe (7,5 euros), e é mesmo nos peixes que nos detemos com vagar, espécie de conto de fadas de assunto marítimo declinado em preparaçõe­s de grande recorte. O colarinho de pescada à São Gião

(21 euros), servido como em casa com legumes e batata cozida, reacende a esperança a quem como eu é cultor do peixe, pela forma sublime como é cozinhado e assessorad­o por molho cremoso que só apetece repetir.

O chef Amaral Nunes também sofre da paixão pela pescada, produz filetes da mesma com salada russa (21 euros) que valha-me deus e pescada grelhada (21 euros) que só aqui se faz com esta precisão e mão. Bacalhau na brasa (23 euros), rodovalho em court-bouillon (23 euros) e lombo de robalo com molho de salsa (22 euros) são outras opções de gabarito que vale a pena considerar. Nas carnes, o luxo mantém-se vivo. Tripas à moda de São Gião (17,5 euros) faz reset a toda a lista de lugares favoritos para as comer, há génio e cuidado. Os rojões de porco ibérico (21 euros) dançam com a alma e o incrível rabo de touro (21 euros) põe-na a brilhar. Do grande receituári­o português, a perdiz à Convento de Alcântara (24 euros), o joelho de porco no forno com feijoada de cogumelos (21 euros) e a couve-lombarda recheada com carnes e caça (21 euros) instituem-se em antologia inefável. As sobremesas escondem a maravilha que é o pêssego no forno com gelado de baunilha (4,5 euros) e oferecem na forma venerável o pudim do abade de Priscos (4,5 euros).

Tudo incomparáv­el, como o chef Pedro Amaral Nunes.l

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