BARLAVENTO COM MUITO GOSTO
LAGOA Estamos a entrar na época baixa, altura soberba para viver um Algarve alternativo, com verdadeiras pérolas gastronómicas escondidas, algumas delas em hotéis. Contrariando todo o preconceito em relação aos restaurantes de hotel, o Aroma, restaurante do Monte Santo Resort, no Carvoeiro, configura preciosidade a descobrir.
Há lugares assim e ainda bem. Descobrimos por acaso primeiro, sentamo-nos para experimentar e ficam-nos na memória incrustados. Inevitavelmente voltamos. O panorama estrelado do Algarve tem dado ânimo a empresários apostados na cozinha diferenciada e gerado novas vocações a um ritmo fascinante que só se sente quando se vai em toada de descoberta. No Aroma, restaurante do Monte Santo Resort, no Carvoeiro, em pleno barlavento algarvio, está agora uma estrela boa, nas mãos do francamente jovem chef Miguel Lourenço.
Alentejano de Beja radicado no Algarve para vencer. Périplo internacional apreciável, conhecedor do sabor português, põe um arsenal técnico considerável ao serviço da tradição e da inovação. Descemos para o restaurante para a refeição no piso da piscina e em minutos apenas desligamos a unidade hoteleira para a viagem privada à mesa. O peito de pato com aromas de hortelã, beterraba e gelado de foie gras (12 euros) é apresentado na ementa como entrada mas é em si mesmo uma refeição light inteira para quem vigia a linha e gosta de comer. Tive dificuldade em entendê-lo, mas parece que tem colhido junto dos passantes e nisso não me meto.
Sopa de tomate com crumble de milho e ovo a baixa temperatura (6,5 euros) foi porto seguro e nota-se à vontade no tema. Corretos e conseguidos os lombos de bacalhau confitados em alho e azeite com risoto de coentros (19,5 euros), muito finos os filetes de robalo com salteado de funcho e repolho (22 euros), qualidade irrepreensível do pescado,
a fazer dar graças pela graça do barlavento, tão pródigo em surpresas marítimas. Mas nas carnes também não nos perdemos, tudo apetece no domínio carnívoro, há psicologia fina orientada para a diversidade da clientela. Caso do supremo de frango e baixa temperatura em cama de bulgur e legumes baby salteados (18,5 euros).
Antológico e de boa escola é o carré de borrego com crosta de ervas e jus, puré de abóbora assada e legumes (26 euros), e ainda tenho bem vivo o gratin de batata que acompanhava o naco de novilho com aromas - tema do restaurante - de alecrim (24 euros). Repeti, claro. Inesperado mas conquistador o risoto de camarão e coentros com queijo parmesão (17 euros), apesar de me parecer merecer uma volta mais portuguesa, nós que somos um país de arrozes e arrozais magníficos.
Nas doces terminações, capítulo que dificilmente marca, ficou a marca do crème brûlée de pistácio com merengue e gelado de coco (7,5 euros), muito conseguido e bateu forte o queijo de cabra com frutos secos e gelado de figo roxo (6 euros). Lena Turcsanyi, sommelier brilhante e oficiante, e Cristiano Leite operam uma coreografia de sala que quase consegue corrigir o mapa difícil que comporta. Quem for vai bem, quem fica vai ainda melhor. Estamos num lugar feliz. l