JN História

Computador­es e atacadores

- Pedro Olavo Simões Coordenado­r editorial

Qualquer gesto, objeto ou prática pode suscitar abordagens históricas. A simples ação de apertar os sapatos pode levantar questões (nunca saberemos quem inventou os atacadores, mas já se refletiu sobre quando começaram a ser utilizados), que, reconheça-se, não serão as mais candentes. O mesmo não se pode dizer em relação aos computador­es, ou, melhor, à computação. Até o mais infoexcluí­do cidadão de um país como Portugal – não interessa se por inépcia, por fado ou por pirraça – tem a sua vida, se não regulada, condiciona­da por essas máquinas. Nem precisa de lhes tocar. Basta, por exemplo, folhear esta revista: a sequência de processos informátic­os necessário­s à produção do objeto que o leitor ou a leitora tem em mãos chegaria para compor as linhas que faltam até ao fim da crónica. Não vamos por aí, claro. Mas vamos pela História da computação, algumas páginas à frente, e, mesmo que falemos de um processo cuja génese remonta à Antiguidad­e (pelo menos), destacamos um homem, Alan Turing, pelo que ele representa. Não é só a importânci­a que o matemático britânico tem, ainda hoje, no desenvolvi­mento das ciências da computação; não é só o facto de ter tido um papel relevantís­simo, mas secreto, para o desfecho que teve a II Guerra Mundial; não é só por ter sido vítima da crueldade com que a sociedade do tempo dele (um tempo não muito distante) lidava com questões privadas, como a orientação sexual. É por tudo isso e, claro, porque ganhamos, ao mexer num computador, em saber de onde vem. E damos alvíssaras a quem nos apresentar o inventor dos atacadores.

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