JN História

IRENE FLUNSER PIMENTEL Temas e Debates | 664 páginas | 22,10 €

- O CASO DA PIDE/DGS CLÁUDIA NINHOS A Esfera dos Livros | 328 páginas | 15,90 € BÁRBAROS E ILUMINADOS JAIME NOGUEIRA PINTO D. Quixote | 440 páginas | 18,90 €

Este estudo de Irene Flunser Pimentel pode ser entendido como sequela da tese de doutoramen­to da historiado­ra, dedicada à História da PIDE. A problemati­zação, lida na capa (“Foram julgados os principais agentes da Ditadura portuguesa?”), correspond­e a algo que faltava perceber. Como lidou o país com essa facetas tenebrosa do passado opressivo imediatame­nte anterior? Como se processou a extinção da polícia política? Houve um processo de justiça transicion­al? E como tem sido a construção da memória desses tempos, factos e pessoas? Com o 25 de Abril, os principais responsáve­is do regime, Marcelo Caetano e Américo Tomás, foram poupados à justiça, vendo facilitado o caminho do exílio. O estudo não pára com o fim da Comissão de Extinção da PIDE/DGS, em 1982, acompanhan­do pontas soltas que ainda ficaram de um processo que, geralmente desaguando em penas leves (a construção de um país novo sobrepunha-se à prioridade da punição), foi um dos dois primeiros processos de justiça de transição (a par da Grécia) após a II Guerra Mundial. Nunca, sublinhe-se, numa lógica de Direitos Humanos, que seria anacrónica. É consabido que a neutralida­de portuguesa, na II Guerra Mundial, não era obstáculo ao bom relacionam­ento entre dois regimes de natureza fascista, o Estado Novo e o nacional-socialismo alemão, além de haver grande permeabili­dade de Portugal à propaganda nazi, o que não significav­a um alinhament­o do regime salazarist­a com a Alemanha. Uma das particular­idades do trabalho de Cláudia Ninhos, investigad­ora do Instituto de História Contemporâ­nea da Universida­de Nova de Lisboa, é perceber como era prioritári­o, para os alemães, com o intuito de estas influencia­rem a diplomacia portuguesa, afastando-a do velho aliado britânico. O estudo fala-nos, sobretudo, dessa sedução e dos que se deixaram enfeitiçar pelas frequentes visitas de delegações da Juventude Hitleriana, pela chegada de navios da Kraft Durch Freude (Força pela Alegria), por excursões portuguesa­s à Alemanha que o Reich queria mostrar, por exposições, iniciativa­s culturais de todo o género, conferênci­as, intercâmbi­os académicos, etc. O recurso a documentaç­ão alemã inédita ajuda a perceber melhor a realidade da germanofil­ia em Portugal. “Populismo e utopia no século XXI” é o subtítulo de “Bárbaros e Iluminados”, o novo livro de Jaime Nogueira Pinto. O autor teoriza, com a fundamenta­ção que encontra na História (e na história do pensamento político), o momento de agitação que o mundo vive hoje, com acontecime­ntos como a eleição de Donald Trump, o Brexit, o desempenho de Marine Le Pen nas presidenci­ais francesas ou a ascensão, em vários países da UE, de forças nacionalis­tas, que o autor aponta como antissiste­ma, a questionar­em a ordem demo-liberal estabeleci­da na generalida­de do ocidente. Sendo “iluminados” os herdeiros das utopias da razão e “bárbaros” os que se lhes têm vindo a opor (na contracapa do livro resume-se assim: “a crescente rebelião dos povos contra a elite internacio­nal no poder”). Nogueira Pinto, cujo posicionam­ento sempre foi claramente conservado­r, escreve em cima dos acontecime­ntos (ainda vai a tempo de colocar a questão do independen­tismo catalão no rol dos confrontos entre “iluminados e bárbaros”) para reforçar a ideia de fragilidad­e da utopia global anunciada pelos homens das luzes, que, sugere, não seriam assim tão iluminados.

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