Jornal de Negócios

Trump vs. Macron

O futuro da democracia ocidental irá depender do sucesso que cada um irá trazer à mesa.

- BERNARDO SOUSA MACHADO Membro do Nova Investment Club

“Make our planet great again” foi a resposta de Emmanuel Macron à decisão de Donald Trump de abandonar os acordos de Paris. Apropriand­o-se do slogan de campanha do Presidente dos Estados Unidos, “Make America great again”, o Presidente francês deu as boas-vindas a França e a todos os profission­ais que queiram continuar a trabalhar para combater as alterações climáticas. No entanto, o propósito deste artigo não é o aqueciment­o global. A razão pela qual resolvi destacar esta interação, advém antes da revelação que esta faz transparec­er sobre as semelhança­s e diferenças entre ambos. À primeira vista, Trump e Macron destacam-se pela total oposição na maneira como cada um vê o mundo. Os dois slogans revelam esta divisão. O “Make America great again” de Trump é uma afirmação direta sobre o foco do Presidente: a América. A visão mundial de Trump está profundame­nte enraizada na crença de que a globalizaç­ão foi prejudicia­l para a América e que é hora de reverter o rumo. Essa intenção materializ­a-se pela vontade do Presidente de pôr em causa todos os principais acordos de cooperação internacio­nal em que os Estados Unidos participam. Esta é uma visão nacionalis­ta que prega o protecioni­smo e políticas de identidade. Contrariam­ente, Macron defende uma sociedade aberta, comércio livre e cooperação internacio­nal. O slogan “Make our planet great again” revela um compromiss­o com o último ponto. O Presidente francês acredita que mais cooperação e integração acrescenta­m ao potencial de França em vez de diminuí-lo. A sua eleição trouxe uma nova vida ao projeto europeu. E, Macron revela ainda abertura no tema da imigração, em forte contraste com a posição de Trump. No entanto, o que eu considero particular­mente interessan­te não é o que os separa, mas sim, o que os aproxima: “Make… X …great again.” Para mim, esta é a questão fundamenta­l para o futuro da democracia ocidental. Tanto Trump quanto Macron são “outsiders” do sistema político. Ambos foram descartado­s no início das eleições como não tendo hipóteses. Ambos ganharam. A força subjacente que os impulsiono­u para os mais altos cargos de duas das nações mais poderosas do mundo foi na realidade o descontent­amento dos eleitores com o sistema político das últimas décadas. As pessoas estão cansadas de “estar em crise”, estão cansadas de promessas vazias e, principalm­ente, estão cansadas de votar nos mesmos partidos e de nada mudar. As pessoas querem mudança. As pessoas querem ser “great again”. O que este fenómeno revela é fundamenta­lmente a rejeição do sistema político tradiciona­l. O paradigma já não é “esquerda ou direita? ”, ambos utilizam livremente políticas de cada ideologia. Nem sequer é sobre o mundo corporativ­o, ambos os candidatos são um produto deste. Trata-se sim, de uma nova liderança. Trata-se de um desejo de mudança. Trata-se de impacto. Na minha opinião, o futuro da democracia ocidental irá depender do sucesso que cada um irá trazer à mesa. Não me refiro a mais cooperação internacio­nal ou menos. Refiro-me sim ao impacto real no dia a dia do cidadão comum. Será ele que vai determinar o veredito, e este não será medido em “travel-bans”, acordos renegociad­os ou aumentos de cooperação. Este será medido em “o que realmente mudou para mim nestes anos? ”. Artigo em conformida­de com o novo Acordo Ortográfic­o

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Stephane De Sakutin/Reuters
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