Jornal de Negócios

Os donos do dinheiro no retiro de Sintra

Draghi lança debate sobre cresciment­o no póscrise no 4.º fórum do BCE que começa hoje.

- RUI PERES JORGE

Está a chegar o momento de deixar de pensar na crise, e de preparar o regresso à normalidad­e. Nas economias avançadas acredita-se que o pior já passou: o cresciment­o está a voltar lentamente, o emprego também, enquanto a inflação recupera, aos poucos, para o objectivo de 2% aceite pela maioria dos bancos cen- trais. Os bancos centrais estão, por isso, a reposicion­ar-se: a Reserva Federal subiu juros no final de 2016 e em 2017, o Banco de Inglaterra sinaliza que o poderá fazer este ano, e provavelme­nte já o teria feito não fosse o Brexit, enquanto o BCE se prepara para esclarecer a sua estratégia de normalizaç­ão da política monetária depois do Verão. Entre as economias avançadas apenas o Japão, ainda a lutar com inflação próximade zero, prevê manter o seu programa de compra de activos a todo gás. Todos sabem que há ainda muitos problemas herdados da crise para resolver, com destaque para o elevado endividame­nto e desemprego e bancos ainda frágeis e, em alguns países, cheios de malparado, mas há no ar um sentimento positivo: a crise estará para trás. No entanto, se assim é, porque são tão contidos os suspiros de alívio? A resposta encontra-se numa dúvida que pende sobre a economias avançadas: e se, daqui para a frente, devido à crise, à falta de investimen­to e ao desemprego, mas também por causa do envelhecim­ento, da pouca tracção da inovação a criar riqueza, do aumento da desigualda­de e outras transforma­ções geradas pelos avanços tecnológic­os, o cresciment­o da produtivid­ade e das economias for demasiado baixo para sa- tisfazer as aspirações dos cidadãos? Este é um risco real: as taxas médias de cresciment­o das economias avançadas nas últimas décadas têm vindo a cair, e o mesmo se passa com o aumento da produtivid­ade, em particular neste século, coincidind­o com a explosão da nova economia digital. É neste contexto que o BCE reúne durante três dias alguns dos principais banqueiros centrais do mundo, vários dos economista­s que têm estudado o tema, e representa­ntes das principais instituiçõ­es internacio­nais. A sessão começa segunda à noite, com a intervençã­o de Ben Bernanke, o ex-presidente da Fed, com um discurso intitulado “Quando o cresciment­o não é suficiente”. Os trabalhos seguem terçafeira, com a apresentaç­ão de artigos e debate sobre “inovação, investimen­to e produtivid­ade” e os seus impactos no cresciment­o e no desemprego, e na quarta-feira, último dia, os participan­tes debatem os ciclos económicos e a importânci­a da política macroeconó­mica. Como já é habitual, os trabalhos terminam com um painel de debate de banqueiros centrais: Mark Carney (Inglaterra), Mario Draghi (BCE), Haruhiko Kuroda (Japão) e Stephen Poloz (Canadá) serão moderados por Karnit Flug, a governador­a do Banco de Israel.

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Ralph Orlowski /Reuters Mario Draghi e Vítor Constâncio são os anfitriões do encontro que durante três vão juntar, em Sintra, os principais banqueiros centrais do mundo.

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