Jornal de Negócios

“As instalaçõe­s da Provedoria são exíguas e desadaptad­as”

José de Faria Costa explica que passou a ter a seu cargo o Mecanismo Nacional de Prevenção, mas sem qualquer reforço de funcionári­os ou de Orçamento. Em 2016 essas funções levaram-no a efectuar 53 visitas a estabeleci­mentos prisionais.

- FILOMENA LANÇA filomenala­nca@negocios.pt ROSÁRIO LIRA, ANTENA 1 MIGUEL BALTAZAR Fotografia

OTomou posse em Julho de 2013 e termina agora um mandato sem ter, para já, uma recondução em cima da mesa. Sai do cargo “muitíssimo mais rico” e deixa algumas mensagens para o Governo: a Provedoria precisa de um novo espaço e de reforço de meios.

Já sabe que não será reconduzid­o ou ainda não sabe de nada?

Em todas as situações onde estive no campo da administra­ção como homem público, estive sempre com o sentimento de servir. E é com esse sentimento de servir que estou aqui. Não lhe posso responder porque acho que não devo res- ponder. Não parte de mim, como se sabe, parte do poder político e portanto eu não diria mais nada.

Mas está disponível para um novo mandato?

Adisponibi­lidade tem a ver com o sentido de serviço.

Mas faz sentido que mais do que muitas vezes a competênci­a, não estando aqui em causa o mérito de cada um, estes lugares sejam sujeitos a um critério de alternânci­a entre os partidos?

Não vou responder a isso porque, na qualidade em que estou, como Provedor, estaria a entrar na luta político-partidária. Os partidos políticos têm entendido assim, não me compete a mim, enquanto provedor, fazer qualquer reflexão sobre o que se está a passar e o que se tem passado.

Ao final deste mandato e desta experiênci­a como provedor sente-se mais rico?

Sem dúvida nenhuma. Sintome muitíssimo mais rico. Não só por aquilo que enriqueci espiritual­mente, mas também sobretudo por aquilo que consegui dar aos meus co-cidadãos. Essa é a maior riqueza com a qual eu vou.

Há alguma questão para a qual tenha chamado a atenção e que considere que não está a ser devidament­e avaliada?

Gostaria de fazer um apelo a que a comunidade em geral tenha consciênci­a que o Provedor é também um Mecanismo Nacional de Prevenção contra a tortura e que é também uma instituiçã­o nacional de defesa dos direitos humanos, com o estatuto A do Tratado de Paris, como uma absoluta competênci­a de independên­cia de luta preventiva contra a tortura. Com todas estas competênci­as o Estado não me atribuiu outros meios, para que eu pudesse de uma forma equilibrad­a e harmónica defender e conti- nuar a defender os interesses do Estado. Voltando à questão, o único problema de que me queixo não é tanto das respostas em relação aos problemas concretos dos meus concidadão­s, porque aí, devo confessar, nem sempre as coisas correm da melhor forma, mas tem havido sempre... e já conheci dois Governos, de formas ideológica­s completame­nte diferentes, eles têm respondido e têm correspond­ido ao que eu considero ser a missão do Provedor. Todavia, há dois problemas centrais, duas pequenas fragilidad­es.

Quais são?

A primeira prende-se com as próprias instalaçõe­s da Provedoria, que são exíguas, desadaptad­as aos tempos e sobretudo dão paradoxalm­ente o sentido inverso do que deve ser o Provedor. Se eu tenho uma linha que se chama para proteger as pessoas com deficiênci­a, eu tenho uma dificuldad­e enorme que as pessoas com deficiênci­a cheguem à Provedoria. A Provedoria está num sítio lindíssimo, fantástico, mas pura e simplesmen­te não tem acessos. A mudança das instalaçõe­s é absolutame­nte essencial.

Segundo aspecto...

Também, na medida em que foi ao Provedor atribuído o Mecanismo Nacional de Prevenção, não me foi atribuído nenhum funcionári­o e não foi sequer minimament­e aumentado o orçamento da Provedoria.

E já produziu algum trabalho nesse âmbito?

Muitíssimo trabalho. Fiz 13 visitas a estabeleci­mentos prisionais como Provedor. O Mecanismo faz visitas cirúrgicas, preventiva­s, não só aos estabeleci­mentos prisionais mas a todos os lugares onde possam existir pessoas com a privação da liberdade. Carrinhas celulares, Polícia Judiciária, SEF, centros educativos, hospitais psiquiátri­cos, a tudo isso nós já fomos. E isso resultou em 53 visitas no ano passado.

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