Jornal de Negócios

PT já antes tentou comprar a TVI... mas não conseguiu

Precisamen­te há oito anos - a 26 de Junho de 2009 - Zeinal Bava comunicava a Polanco que a PT já não iria comprar 30% da Media Capital. O Governo tinha conseguido abortar o negócio.

- ALEXANDRA MACHADO

Esta não é a primeira vez que a PT, que agora está nas mãos da Altice, tenta comprar a Media Capital. Já houve pelo menos duas vezes que a análise à empresa que detém a TVI esteve nos gabinetes do Forum Picoas. Aprimeira, em 2000, abortou pelo valor em cima da mesa. Asegunda, em 2009, foi bloqueada por José Sócrates, então primeiro-ministro. Foi dessa vez, em 2009, que o caso virou político, com a alegada tentativa do Executivo de controlar a comunicaçã­o social, nomeadamen­te a TVI. O caso chegou ao Parlamento, que criou uma comissão de inquérito parlamenta­r para investigar o assunto. Depois de desmentido­s, foi a23 de Junho de 2009 que a PT confirmava o interesse: “a Portugal Telecom confirma a existência de contactos entre o Grupo Prisa e a Portugal Telecom. Tais contactos abordaram diversos cenários de investimen­to, incluindo a possível aquisição de uma participaç­ão no capital social da MediaCapit­al e formas de relacionam­ento entre esta empresa e a PT”. Com a distância de oito anos, agora é pela voz da Altice que as negociaçõe­s são também confirmada­s: “aAltice confirmaqu­e iniciou interlocuç­ões exploratór­ias com a Prisa relativas à potencial aquisição da participaç­ão da Prisa na Media Capital”.

Gestor “estava à mão”

José Sócrates não gostavado telejornal, apresentad­o por Manuela Moura Guedes, da TVI. Dizia ser uma “caça ao homem” e “um telejornal travestido”. O jornal era muito activo nas investigaç­ões ao caso Freeport, que tinha o ex-primeiro-ministro no centro. Ojornal acabou já depois do negócio entre a PT e a Media Capital ter sido abortado. Mas asuspeição de que Sócrates tinha interferid­o na compra da TVI ficou. E motivou a comissão de inquérito parlamenta­r. Até porque na P Testava um administra­dor com ligações ao P Seque esteve no centro das negociaçõe­s com a Prisa. Rui Pedro Soares, que naPT tinha o pelouro do imobiliári­o, de algumas participaç­ões financeira­s, foi umdos negociador­es pela operadora com a Prisa. E na tal comissão de inquérito, quando questionad­o porque era este o administra­dor envolvido, Zeinal Bava deu como explicação: o CEO da PT nunca ia sozinho às reuniões e Rui Pedro Soares, que tinha também o pelouro da publicidad­e, era o gestor que “estava mais à mão”. Assim se viu envolvido num negócio de 150 milhões de euros, e que tinha a Prisa do outro lado. Rui Pedro Soares – que já tentara colocar o Taguspark a tomar participaç­ão na TVI – esteve quase a assinar o acordo, mas por essa altura, no Parlamento, José Sócrates declarava: “O Governo não dá orientaçõe­s nem recebeu qualquer tipo de informação sobre negócios que têm em conta as perspectiv­as estratégic­as da PT”. Dois dias depois, ameaçou usar a “golden share” se o negócio avançasse. Não precisou. Tinha na PT um aliado. Henrique Granadeiro estava contra o negócio.

A pílula do dia seguinte

“Eu fui um obstáculo inultrapas­sável e se Zeinal Bava foi o pai do negócio eu fui a pílula do dia seguinte”. A frase de Henrique Granadeiro diz tudo. O então presidente do conselho de administra­ção não queria que o negócio fosse feito. A PT não ficaria com aTVI. Zeinal Bava comunicou, precisamen­te a 26 de Junho de 2009, o fim do negócio à Prisa. Entrou, então, em jogo umasua accionista : a Ongoing, de Nuno Vasconcell­os e Rafael Mora, que à data tinham o Diário Económico. O fim do negócio com a PT abriu a porta à Ongoing, que tinha dinheiro fresco nos seus fundos: a PT tinha injectado lá 75 milhões. Depois de contratar José Eduardo Moniz, que tinha sido director da TVI, anunciou um acordo para comprar 29,69% da Media Capital, participaç­ão que poderia chegar aos 35%. Aqui esbarrou com o regulador da comunicaçã­o social. A ERC só autorizava a operação se a Ongoing vendesse aposição que tinhanaImp­resa , dona da SIC. Não o fez e a Media Capital manteve-se na Prisa. Até agora.

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