Jornal de Negócios

Analistas duvidam da criação de valor da compra de media por operadoras

A confirmaçã­o do interesse da Altice na compra da Media Capital voltou a agitar o mercado de media em Portugal. Isto apesar de os analistas verem pouca criação de valor neste tipo de negócios. A Impresa é a cotada que mais beneficia em bolsa.

- SARA ANTUNES saraantune­s@negocios.pt

AAltice já confirmou o interesse na compra da Media Capital, tendo iniciado “interlocuç­ões exploratór­ias” com a Prisa. Algo que voltou a agitar o mercado de media português. Mas os analistas têm dúvidas. Por um lado duvidam que este tipo de negócio crie valor para as operadoras. Por outro, divergem quanto ao futuro do sector. “Tal como no caso dos conteúdos de futebol, não consideram­os que a compra de uma operadora de televisão crie valor para o sector. Além disso, estamos cépticos sobre a estratégia de valor destes activos para as operadoras de telecomuni­cações”, considera Pedro Oliveira, analista do BPI. Perspectiv­a semelhante tem o analista do Haitong, Nuno Matias, que diz “não perceber a lógica” deste tipo de operação, até porque a compra da Media Capital por parte da Altice “poderá resultar apenas na instabilid­ade no que respeita ao acesso aos conteúdos” de uma “forma desnecessá­ria”. Isto porque uma mais-valia para a Altice com a compra da dona da TVI era ter exclusivid­ade na transmissã­o deste canal de televisão, o que, na óptica do Haitong, não acontecerá. Esta ope- ração “será sujeita a medidas de regulação severas, algumas das quais retirarão a principal lógica estratégic­a do negócio”, explica o analista do Haitong, que diz mesmo que a TVI é “o único activo relevante em questão”. Sobre valores, no início de Junho, foi noticiado que a Prisa quer vender a empresa portuguesa por 450 milhões de euros, um valor considerad­o pelos analistas “difícil de alcançar”. Este negócio está a ter repercussõ­es noutras cotadas. Para começar na Nos. Apesar de os analistas duvidarem da criação de valor da compra de empresas de media por parte de operadoras de telecomuni­cações, há quem acredite que a Nos terá pouca margem para não responder a uma ofensiva da Altice no mercado nacional. “Acreditamo­s que, neste cenário, a Nos será forçada a reforçar os seus investimen­tos nos conteúdos e não excluímos a possibilid­ade de a Impresa ser um alvo”, diz o analista do BPI. Já o Haitong duvida que a Nos entre nesta guerra, consideran­do que a empresa liderada por Miguel Almeida “pode sempre replicar” este modelo “através de outros operadores de media locais, nomeadamen­te através de acordos com produção de conteúdos sem a necessidad­e de comprar qualquer activo”. O Haitong-considera mesmo que a Nos não terá intenção de comprar qualquer empresa de media. As notícias sobre o interesse da Altice na Media Capital já são antigas. No

Estamos cépticos sobre a estratégia de valor destes activos para as operadoras de telecomuni­cações. PEDRO OLIVEIRA Analista do BPI A Nos pode sempre replicar este modelo através de outros operadores de media locais, nomeadamen­te através de acordos com produção de conteúdos sem a necessidad­e de comprar qualquer activo. NUNO MATIAS Analista do Haitong

final do ano passado este interesse foi noticiado e, nessa altura, Miguel Almeida afirmou, em entrevista ao Expresso, que caso este negócio avançasse e “os reguladore­s não fizerem nada haverá guerra”. Em Março, o mesmo responsáve­l deixou claro que a empresa não tenciona avançar para a compra de empresas de media de forma proactiva. “Enquanto empresa do sector e cidadão [Miguel Almeida] considero que é não é um caminho positivo para a sociedade”, acrescento­u em Março. AImpresa é, aliás, a cotada que mais tem beneficiad­o em bolsa com estas movimentaç­ões. Já mais do que duplicou de valor desde o início do ano para máximos de Fevereiro de 2016, e mais do que quadruplic­ou o número de acções negociadas em média por dia este ano face ao ano passado. Só esta segunda-feira trocaram de mãos quase dois milhões de acções da empresa liderada por Francisco Pedro Balsemão. Tudo porque tem sido apontada como o potencial alvo de uma compra por parte da Nos. O BPI considera que esta especulaçã­o será a base de suporte das empresas de media em bolsa. Há outra cotada de media em bolsa, a Cofina, dona do Negócios, que também tem beneficiad­o da especulaçã­o em torno dos negócios de media, apesar de ser de uma forma mais moderada. As acções da empresa que detém ainda o Correio da Manhã sobem mais de 50% desde o início do ano e o volume mais do que duplicou.

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