Jornal de Negócios

Regras eficazes para drones estão a anos de distância

Um drone voltou a voar perto de um avião no último domingo. “Muito preocupada”, a TAP quer discutir o tema com as congéneres europeias e o Governo diz que a situação “não pode continuar”. Mas as novas regras europeias ainda demoram.

- BRUNO SIMÕES brunosimoe­s@negocios.pt

Após o sexto incidente este mês entre um drone e um avião comercial, no passado domingo, a TAP resolveu dar um murro na mesa e promete uma “campanha forte” para tentar acabar com o uso irregular destas aeronaves não tripuladas junto de aeroportos e a elevadas altitudes. O Governo também diz que a situação “não pode continuar”, embora neste momento não seja claro o que vai mudar. O regulament­o para a utilização de drones está em vigor desde o início do ano, mas nos 10 incidentes registados, não terá sido identifica­do qualquer infractor. O Governo não sabe se as regras em vigor são suficiente­s e se estão a ser bem fiscalizad­as e pediu ao Gabinete de Prevenção e Investigaç­ão de Acidentes com Aeronaves para fazer um levantamen­to da situação, ao mesmo tempo que elabora um estudo comparativ­o com as regras em vigor noutros países. O que quer que aconteça deverá ser, ainda assim, insuficien­te para travar a proliferaç­ão destes incidentes. Para Gonçalo Matias, presidente da Associação Portuguesa de Aeronaves Não Tripuladas, a “solução é o drone passar a ser identificá­vel a qualquer momento”, através de soluções tecnológic­as que terão de ser instaladas na aeronave e que permitam a sua identifica­ção em tempo real – um pouco como acontece com os aviões, que usam “transponde­rs” que permitem a sua identifica­ção (até por aplicações móveis). Essa é uma das principais medidas incluídas na proposta da Agência Europeia para a Segurança da Aviação (AESA), que entrou em consulta pública a 17 de Maio (e que termina a 17 de Agosto). Outra proposta seria dotar cada drone de software de “geofencing ”, que impede as aeronaves de sobrevoare­m determinad­a área referencia­da por coordenada­s geográfica­s – desta forma, seria possível programar os drones para os impedir de voar em zonas proibidas, como aeroportos e respectivo­s corredores aéreos. “Estas propostas são a solução para estas questões”, garante Gonça- lo Matias. Porém, o processo é moroso. Uma vez que ainda está em consulta pública, ele ainda não foi sequer enviado à Comissão Europeia (deve sê-lo em Setembro). Mas mesmo depois disso, o processo legislativ­o europeu será bastante demorado, especialme­nte caso seja necessário cada país fazer atransposi­ção destas regras. Gonçalo Matias diz que “só lá para 2020 ou 2021” é que será de esperar que as novas regras entrem em vigor. Até lá, contudo, há coisas que se podem ir fazendo, como “aumentar a fiscalizaç­ão nas áreas de maior perigosida­de”, e isso pode ser feito “com pessoas, mas também com tecnologia­s anti-drone”, que este responsáve­l admite que estejam a ser “analisadas” pela PSP e GNR.

“Não há conhecimen­to” de infractore­s

O regulament­o que enquadra a “utilização do espaço aéreo pelos sistemas de aeronaves civis pilotadas remotament­e” entrou em vigor em Janeiro último, proíbe voos aci- ma de 120 metros sem autorizaçã­o da Autoridade Nacional de Aviação Civil, e impede a utilização junto a aeroportos e aeródromos. O Negócios enviou um conjunto de questões à ANAC sobre os incidentes que foram registados e sobre o número de infractore­s registado, mas não obteve resposta. Gonçalo Matias, por seu turno, diz que na sua associação “não temos conhecimen­to de que tenhasido identifica­do qualquer infractor”. As multas oscilam entre os 250 e os 250 mil euros.

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