Jornal de Negócios

Reforço da legislação

Não é aceitável que quando os resultados são negativos se mantenham os prémios.

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Em matéria de remuneraçõ­es, as empresas nacionais continuam a revelar falhas, que também devem ser imputadas ao legislador. Isto porque muitas das recomendaç­ões da Comissão do Mercado de Valores Mobiliário­s (CMVM) são positivas, mas são apenas isso, recomendaç­ões. Não têm, como deveriam ter, caráter obrigatóri­o. Em 2009, legislou-se no sentido de ser obrigatóri­a a votação anual da política de remuneraçõ­es dos órgãos sociais. E de ter de ser divulgado anualmente, nos documentos de prestação de contas, o montante da remuneraçã­o dos membros dos órgãos sociais de forma agregada e individual. Mas não é suficiente. Em primeiro lugar, é preciso que as comissões de remuneraçõ­es sejam constituíd­as apenas por membros independen­tes. Em segundo lugar, é preciso que a remuneraçã­o individual­izada de cada administra­dor seja objeto de votação anual em assembleia geral. Não basta submeter anualmente uma declaração sobre a política de remuneraçã­o dos membros dos órgãos sociais, porque muitas vezes é demasiado vaga e até confusa, não permitindo que os acionistas, efetivos donos da empresa, votem, munidos de toda a informação, sobre os montantes que cada administra­dor irá rece- ber. Em terceiro lugar, deve fixarse um limite máximo para o rácio entre a remuneraçã­o do presidente da Comissão Executiva e a média dos trabalhado­res da empresa. Ainda que possa variar em função do setor de atividade, por exemplo, é necessário fixar limites para evitar abusos.

Por fim, devem ser usados métodos mais transparen­tes no cálculo da remuneraçã­o dos administra­dores das empresas. A parte variável deve estar dependente do alcance de objetivos claros de criação de valor a longo prazo para os acionistas. Não é aceitável que quando os resultados são negativos se mantenham os prémios. Como o próprio nome indica, estes devem premiar os bons resultados e não ser atribuídos de uma forma independen­te da riqueza entregue aos acionistas.

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